Numa espécie de presente distópico do Brasil, o governo baixa um decreto que remove todos os idosos acima de 77 anos do convívio social e os coloca em colônias habitacionais.
Denise Weinberg de “O Caseiro” é Tereza que ao atingir a idade limite, recusa-se a ir para a colônia e foge pelos rios da Amazônia embarcando numa jornada de autodescobrimento.
Há algumas propagandas enganosas que fazem toda a diferença (para pior): a primeira é colocar Rodrigo Santoro (“7 Prisioneiros”) dividindo o protagonismo, quando na verdade ele é meramente um coadjuvante com pouco tempo de presença. E, diga-se de passagem, agrega pouquíssimo ao roteiro, além de sua – como já disse – presença sempre bem-vinda (e a do caracol de baba azul – você vai entender depois).
O segundo, que deveria ser a essência do filme, é a tal jornada, pois aparentemente quase nada do que acontece contribui para a construção ou evolução da personagem ou mesmo do meio em que ela se encontra, resumindo-se a ótimos, mas momentos contados a dedo que realmente mudam o curso do roteiro.
Não é a toa, o filme dura 85 minutos (menos que a média tradicional) e, ainda assim, com uma edição mais enxuta, viraria um curta-metragem. É como se o diretor Gabriel Mascaro tivesse colocado muito recheio para esticar uma trama que jamais se traduziria numa produção desse formato. Tanto que quando os créditos aparecem, há a impressão que faltou alguma coisa – ou muito – a ser mostrado para uma construção que faça sentido.
Sim, o filme traz uma mensagem interessante sobre a revolta contra o envelhecimento ou o seu próprio enfrentamento, sendo a colônia meramente uma analogia para o estágio avançado da idade. Só que o roteiro não aprofunda: as tais colônias não foram exploradas, não há posicionamento claro se a tal medida é boa ou ruim, tirando o fato do trágico e hilário “cata-velho” ser uma atração a parte do primeiro ato.
O roteiro também não dá bola para o que se passa em cena, como a aposta do último ato que não traz nada para a narrativa, a não ser esticar o tempo mais uma vez.
Os pontos positivos ficam por conta de Denise Weinberg que faz um trabalho magnífico em fazer o espectador acreditar que tudo aquilo seja possível, mesmo com uma produção claramente de baixo orçamento; e a direção de fotografia de Guillermo Garza que mostra uma Amazônia ao mesmo tempo surreal e crível de dia e de noite e, junto com Mascavo dá um show na derradeira cena da batalha de peixes.
“O Último Azul” dá um ótimo porta-retratos com imagens belíssimas, mas sua premissa nunca se desenvolve propriamente, com seus realizadores dando prioridade a apenas encher o fiapo de trama com conteúdos desnecessários.
Ficha Técnica:
Elenco:
Denise Weinberg
Rodrigo Santoro
Miriam Socarras
Adanilo
Rosa Malagueta
Clarissa Pinheiro
Dimas Mendonça
Daniel Ferrat
Heitor Lóris
Rafael César
Isabela Catão
Daniela Reis
Diego Bauer
Direção:
Gabriel Mascaro
História e Roteiro:
Gabriel Mascaro
Tibério Azul
Murilo Hauser
Heitor Lorega
Produção:
Rachel Daisy Ellis
Sandino Saravia Vinay
Fotografia:
Guillermo Garza
Trilha Sonora:
Memo Guerra