Depois da bomba de Ari Aster, “Beau Tem Medo”, o diretor retoma a parceria com Joaquim Phoenix num filme que, agora sim, fica acima da média, mas não chega a brilhar. Pode-se dizer que é uma boa comédia de humor negro no estilo dos irmãos Coen com uma dose de crítica social.
Em pleno período de lockdown da COVID-19, a cidadezinha de Eddington tem em seu xerife Joe (Phoenix), a antítese da autoridade ideal: ele não acredita na doença ou no uso de máscaras ou em vacinas, é um preconceituoso enristado, mas se diz um cidadão do bem.
Ironicamente ele está deprimido com as teorias de conspiração que sua esposa Louise (Emma Stone de “Tipos de Gentileza”) acredita, além de um passado que ela tem com o prefeito da cidade, Ted (adivinha quem: Pedro Pascal de “Amores Materialistas“). Essa rusga aumenta com as eleições para prefeito em que Joe se candidata e tenta fazer de tudo para desacreditar Ted, chegando a consequências brutais e inimagináveis.
Fica clara a crítica social do “cidadão do bem” no primeiro ato, mas que também revela o contraponto da agenda woke, revelando as falhas de cada lado com muito humor.
O segundo ato, o diretor incorpora os irmãos Coen naquele tipo de comédia de erros que eles fizeram em “Fargo” e outras produções, dando quase certo, não fosse o fato de que, ao abraçar vários temas, essa essência se dilui ou até mesmo se desvia para um terceiro braço que surge no último ato, com mais violência explícita e humor slasher.
Com essa estrutura narrativa, é como se Ari Aster quisesse conceber algo parecido com “Uma Batalha Após a Outra”, visto que ele tentar rodear sua história com um amplo contexto, mas não chegou à maestria do cineasta Paul Thomas Anderson pela conexão rasa entre os atos, mesmo que interessantes, cada um a sua maneira.
Apesar do grande elenco, Phenix carrega o filme nas costas e seu último ato é sensacional, mostrando um ciclo de crime e castigo de um personagem que, em sua mente, justifica seus atos para um bem maior.
“Eddington” é peculiar e curioso, com um protagonista na medida, põe Ari Aster de volta no jogo de Hollywood, mas faltou um pouquinho mais de consistência e coesão.
Curiosidades:
- Esse era o primeiro filme a ser dirigido por Ari Aster, mas por falta de um estúdio para bancar, acabou dirigindo primeiro “Hereditário”. Com esse sucesso e o do seu outro terror “Midsommar”, garantiu que o filme fosse produzido.
- O nome do datacenter a ser implantado na cidade é chamado “SolidGoldMagikarp” que é o tokem de IA que levava o algoritmo a alucinar.
- Na cena em que Joe entra na casa de Ted que estava dando uma festa, a música que deveria tocar era Jay-Z – Empire State of Mind, mas como não conseguiram comprar os direitos autorais de reprodução optaram por Kate Perry – Fireworks.
Ficha Técnica:
Elenco:
Joaquin Phoenix
Deirdre O’Connell
Emma Stone
Micheal Ward
Pedro Pascal
Cameron Mann
Matt Gomez Hidaka
Luke Grimes
Amélie Hoeferle
Clifton Collins Jr.
William Belleau
Austin Butler
Rachel de la Torre
Direção:
Ari Aster
História e Roteiro:
Ari Aster
Produção:
Ari Aster
Lars Knudsen
Ann Ruark
Fotografia:
Darius Khondji
Trilha Sonora:
Bobby Krlic
Daniel Pemberton