Importante frisar que essa é a primeira vez que entro em contato com uma adaptação do livro de Gregory Maguire, o qual já virou um famoso musical da Broadway. A obra por si só – a partir da história que vi no filme – já é disruptiva, pois dá um backstory para o mundo de Oz com uma profundidade jamais vista, nem mesmo em “Oz – Mágico e Poderoso”, outro ótimo filme, mas que não divide o universo de Oz com “Wicked”, o qual, inclusive, se aproxima mais do clássico “O Mágico de Oz” de 1939.
A produção se comporta como uma mistura de “Harry “Potter” com “Meninas Malvadas” (pelo visto, o musical). Aqui vemos outro ângulo das duas bruxas principais, A Bruxa Má do Oeste (Cynthia Erivo de “Mundo em Caos”) e a Bruxa Boa do Norte (a cantora Ariana Grande que também esteve em “Não Olhe Para Cima”).
Erivo é Elphaba que nasceu com a pele verde e vive sua vida caçoada por todos, até que vai estudar na prestigiosa Universidade Shiz e acaba dividindo o quarto com Galinda (Grande), antes de ambas serem bruxas de verdade. Só que Elphaba tem poderes que despertam a atenção da reitora Madame Morrible (Michelle Yeoh de “A Noite das Bruxas”).
Essa pode ser a chance de Elphaba de virar uma feiticeira de verdade, conhecer o Mágico de Oz (Jeff Goldblum de “Asteroid City”) e realizar o desejo de ser uma pessoa normal (por normal entende-se ter uma pele de um espectro de cor normal). Enquanto isso, os animais falantes de Oz estão desaparecendo, o que desperta em Elphaba suspeitas de uma conspiração.
Opa, temos aí o tema central de preconceito e inclusão, onde se trata o tema sem forçar a barra, mesmo que este seja um dos centros da trama (reparem que a produção é da Universal e não da Disney e daí o motivo). Inclusive também há uma cadeirante (irmã de Elphaba) e que, pasmem, encaixa-se perfeitamente no roteiro e em seu desenvolvimento.
Não só isso: até então (vai ter a parte 2), todos os eventos se encaixam na história de “O Mágico de Oz” e há alguns momentos geniais, como a mudança do nome Galinda para Glinda, a estrada de tijolos amarelos, a vassoura mágica, dentre muitos outros.
A dupla de protagonistas não poderia ser mais talentosa: Ariana Grande revela um timing nato para comédia e impressiona até os mais incrédulos, enquanto Cynthia Erivo é puro carisma e ainda por cima tem um vozeirão que se combina perfeitamente com a de sua parceira de cena Ariana.
E sim, é um musical e, de longe, o melhor do ano. Músicas belíssimas, que não só agregam à história como a impulsionam, coreografia misturada com engenharia de som de cair o queixo e, é claro, performances irretocáveis da dupla de protagonistas e do elenco coadjuvante.
Aliás, o diretor Jon M. Chu de “Podres de Ricos” consegue extrair o melhor dos coadjuvantes ajustando a cena ao potencial de cada um, além de prestar homenagens a todas as histórias de Oz que vieram antes, inclusive do espetáculo musical da qual deriva.
Os efeitos especiais são uma atração à parte: esqueça o que você viu da Marvel ou Disney esse ano e entenda o que são efeitos meticulosamente preparados, misturando CGI e cenários reais de forma competente e orgânica, fazendo o espectador entrar de verdade nesse universo.
Essa soma de elementos torna a jornada das protagonistas crível e emocionante, já que vai ser muito difícil não derramar sequer uma lágrima, pois o filme é recheado de momentos tocantes genuínos.
“Wicked” talvez seja a surpresa do ano, sendo um musical de primeira linha, dirigido com maestria, roteirizado com uma cadeia de histórias que se cruzam com todas as amarras e com o talento de elenco e equipe numa sintonia sensacional. Os concorrentes ao Oscar que se cuidem.
Curiosidades:
- Foram plantadas mais de 9 milhões de tulipas para a montagem de um dos cenários.
- O nome Elphaba é a pronúncia em inglês das consoantes iniciais do nome do criador de “O Mágico de Oz”, L. Frank Baum (L-F-B).
- As protagonistas cantam todas as suas músicas ao vivo.
- O fato de Elphaba ser boa, só ocorre no livro de Gregory Maguire que subverteu a história, pois no original de L. Frank Baum, ela era má mesmo.
- O visual dos cabelos e unhas de Elphaba foram sugestões da própria Cynthia Erivo.
- O filme foi lançado 20 anos depois da sua estréia como peça de teatro na Brodway.
- Há 20 anos, em seu lançamento, o espetáculo tinha como protagonistas Idina Menzel e Kristin Chenoweth. Elas fazem uma ótima participação no filme na cena da peça de teatro. Para quem não percebeu, sim, Idina Menzel é a mesma de “Frozen”.
- As dubladores brasileiras, Myra Ruiz (Elphaba) e Fabi Bang (Glinda), são as mesmas que fazem o espetáculo teatral “Wicked” adaptado para o Brasil.
- A atriz Marissa Bode que faz a irmã de Elphaba é cadeirante na vida real também.
Ficha Técnica:
Elenco:
Cynthia Erivo
Ariana Grande
Jeff Goldblum
Michelle Yeoh
Jonathan Bailey
Ethan Slater
Marissa Bode
Peter Dinklage
Andy Nyman
Courtney Mae-Briggs
Aaron Teoh Guan Ti
Bowen Yang
Bronwyn James
Shaun Prendergast
Keala Settle
Direção:
Jon M. Chu
História e Roteiro:
Winnie Holzman
Dana Fox
Produção:
Marc Platt
David Stone
Fotografia:
Alice Brooks
Trilha Sonora:
John Powell
Stephen Schwartz