O desenho de Wallace & Gromit é uma espécie de tesouro nacional da Grã-bretanha e foi o que colocou o estúdio Aardman nos holofotes desde “Fuga das Galinhas” e “O Homem das Cavernas”. Por isso é de se estranhar que demoraram 20 anos para fazer uma continuação cinematográfica dessa querida dupla de personagens, o inventor descerebrado Wallace e seu cãozinho sábio Gromit, que estrearam na TV na década de 90, mas pularam para o cinema em 2005 com “Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais”.
Na verdade, tem um motivo sim: estado de saúde do dublador de Wallace, Peter Sallis, que acabou falecendo em 2017, sendo que a equipe resistiu em continuar, porém finalmente decidiram ir em frente e contrataram Ben Whitehead para substituí-lo.
A trama foi uma aposta arriscada, pois é uma continuação direta de um de seus primeiros curtas-metragens na década de 90, “Wallace & Gromit – As Calças Erradas”, onde no final eles capturam o ladrão – que é um pinguim – Feathers, e que havia roubado um diamante. Só que nada disso é explicado e o espectador, principalmente o brasileiro, tem que se virar para entender de onde vem a história.
Tudo começa quando Wallace constrói um robô para tarefas domésticas, despertando a desconfiança de Gromit, enquanto o famigerado Feathers desdobre da prisão um jeito de hackear o robô e colocar uma programação maligna que vai deixar Wallace e Gromit em maus lençóis.
Mesmo com os personagens sempre carismáticos, a trama é bem simplória, até vai melhorando rumo ao final e presta homenagens aos ótimos desenhos animados da Hanna Barbera.
A produção faz um stop motion raíz ao contrário de animações como “Link Perdido” que usa de mais tecnologia, mas o resultado é tão encantador quanto.
Nada, entretanto, justifica uma indicação ao Oscar, já que no melhor, é um bom filme família com boas referências cinematográficas. Todos os elementos que fizeram crescer o legado do diretor e criador Nick Park estão lá, mas faltam camadas, sejam de complexidade emocional, narrativa ou técnica que não deixam de ser desejáveis para indicações em prêmios.
“Wallace & Gromit: Avengança” não mexe em time que está ganhando, tem seus ótimos momentos, é engraçado e carismático, e assim deve permanecer na mente do público, sem outras pretensões.
Curiosidade:
- A roupa que está pendurada no corredor de entrada da casa de Wallace é o estilo que o falecido Peter Sallis usava no trabalho.
- A tela do computador de Wallace tem todas as pastas sem nome com exceção de uma chamada “Fotos de queijos”.
- Na delegacia há uma placa pedindo informações de “Sra Tweedy”, a vilã de “Fuga das Galinhas“.
- O apresentador do telejornal Anton Deck é uma homenagem à dupla de apresentadores famosa na Inglaterra Ant & Deck, os quais tem seu próprio programa de variedades.
- O protocolo de Norbot tem as seguintes configurações:
- Bom
- Agradável
- Despreocupado
- Arrogante
- Chato
- Meio inconveniente
- Uma pouco egoísta
- Rabugento
- Espirituoso
- Muito sacana
- Mau
- Uma das revistas na mesa da casa de Wallace se chama Jardins da Galáxia (Gardens of the Galaxy) uma brincadeira com “Guardiões da Galáxia”.
- A fábrica que produzia a massa de modelar para a Aardman, faliu em 2023. Para fazer a animação, a produtora manteve a fábrica aberta, pagando por um enorme pedido para o filme.
- Quando Feathers faz exercícios é uma referência ao clássico “Cabo do Medo”.
- Há uma cena em que o cenário é visto pelos olhos do duende andróide e a tela fica idêntica à visão do “Exterminador do Futuro”.
- A cena em que Feathers faz carinho numa foca é uma referência a Blofinger, vilão de 007.
- A música que Feathers toca no órgão é Toccata and Fuge de Bach e é uma referência aos filmes da Pantera Cor de Rosa.
- O dispositivo que Gromit usa para achar os duendes robôs é o mesmo usado em “Batman Returns”.
- A cena do poster cobrindo o buraco para Feathers escapar é uma homenagem a “Um Grito de Liberdade”.
- Quando Feathers hackeia Norbot, a tela fica verde no estilo de “Matrix”.
Ficha Técnica:
Elenco:
Ben Whitehead
Peter Kay
Lauren Patel
Reece Shearsmith
Diane Morgan
Adjoa Andoh
Muzz Khan
Lenny Henry
Victoria Elliott
Direção:
Merlin Crossingham
Nick Park
História e Roteiro:
Mark Burton
Nick Park
Produção:
Richard Beek
Fotografia:
Dave Alex Riddett
Trilha Sonora:
Lorne Balfe
Julian Nott