W.E. – O Romance do Século (“W.E.”)

Se tem algo raro, mas deliciosamente interessante é comparar o mesmo contexto cinematográfico em diferentes produções. Quem viu o Oscarizado “O Discurso do Rei” lembra que George VI (Colin Firth) assumiu o trono da Grã Bretanha – tema que é todo o cerne do filme – porque seu irmão Edward VIII (lá interpretado por Guy Pearce), tido como irresponsável e fanfarrão, abdicou para ficar com quem ele chamava de o amor da vida dele, uma americana divorciada duas vezes. E justamente por conta disso, foram exilados.

Em “W.E.”, dirigido pela multimídia Madonna, é mostrado o outro lado e conta justamente o romance de Edward e Wallis, interpretados respectivamente por James D’Arcy de “Rise – A Ressurreição” e Andrea Riseborough de “Simplesmente Feliz”. O romance é contado de forma competente com um design de produção muito bem cuidado e remete aos detalhes da trajetória do casal, do auge à decadência, com toda uma reflexão sobre o conceito de ser feliz para sempre. Não dá para não comparar os personagens entre esta obra e “O Discurso do Rei” e é artisticamente e historicamente enriquecedor entender as diferentes nuances através das diferentes visões.

Entretanto há um grande problema: existe outro filme em “W.E.”. Revezando-se no espaço-tempo, há a história nos tempos atuais de Wally (a linda Abbie Cornish de “Sucker Punch”), uma mulher casada com um médico famoso (Richard Coyle de “O Príncipe da Pérsia”), mas totalmente negligenciada em seu relacionamento. Como consolo, ela busca na exposição de museu sobre o casal da realeza Wallis e Edward, uma resposta para seu dilema matrimonial e acaba conhecendo um segurança (Oscar Isaac que já trabalhou com ela em “Sucker Punch”), o qual fará de tudo para conquistá-la.

Pena que essa trama seja insossa e causa tremendo tédio, o qual segue o espectador por quase toda a projeção. Chega até ser engraçado que, enquanto a trama histórica tão conhecida é cheia de detalhes que enriquecem a narrativa, a trama atual que teoricamente deveria ser surpreendente justamente pelo desconhecimento do público, na verdade é óbvia, lenta e sem clímax. E mais: a obsessão que a Wally (Cornish) tem por Wallis (Riseborough) beira o inexplicável e o ridículo. Afinal de contas, qual o propósito de ir até Paris para ler as cartas perdidas de Wallis? Apenas para comprovar o que já se sabia sobre o desfecho do romance do século? Essa como outras cenas da história de Wally são desnecessárias e apenas servem pra aumentar o tempo de projeção que chega nas instigantes duas horas.

Madonna deve ter algum tipo de tara por homens fumando, já que os três principais personagens masculinos aparecem com um cigarro em quase todas as cenas como se estivessem disputando um concurso pra ver quem morre primeiro de câncer de pulmão. As transições a diretora faz entre as histórias atual e antiga, hora são inspiradas (como a cena da xícara), hora são forçadas e sem sentido (vide cena do leilão). Como boa entendedora de música, a trilha sonora e inspiradíssima por Abel Korzeniowski de “Direito de Amar” e que concorreu ao Globo de Ouro desse ano.

W.E.” que por uma feliz coincidência, além de ser a abreviatura de Wallis e Edward também forma a palavra inglesa “we” que significa “nós”, é um retrato artístico e histórico que merece ser visto. Infelizmente o espectador que se aventurar, deverá enfrentar outro filme, este que deveria ser extirpado da edição final.

Ficha Técnica

Elenco:
Abbie Cornish
Andrea Riseborough
James D’Arcy
Oscar Isaac
Richard Coyle
David Harbour
James Fox
Judy Parfitt
Haluk Bilginer
Geoffrey Palmer
Natalie Dormer
Laurence Fox
Douglas Reith
Katie McGrath

Direção:
Madonna

Produção:
Kris Thykier
Colin Vaines

Fotografia:
Hagen Bogdanski

Trilha Sonora:
John Powell

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