Uma produção que não preza pela sutileza: imagina a volta de Eddie Murphy que encarnou pela primeira vez o papel do policial bocudo Axel Foley há 40 anos. Na época ele tinha 23 anos e hoje já com 63, praticamente um senhor, não fosse pela sua aparência praticamente imutável e seu sorriso característico.
Só que o filme começa como se a última parte tivesse saído anteontem e que não há nada de grandioso no personagem. O fã que se preze vai passar essa raiva no início e nosso querido Axel não merecia ser jogado assim num filme como se fosse algo comum. Essa sensação é abrandada quando vemos que toda a trupe que fizeram a franquia está de volta.
Murphy, visto pela última vez em “Certas Pessoas”, veste seu personagem e volta a Beverly Hills quando sabe que sua filha Jane (Taylour Paige de “A Voz Suprema do Blues”) está sendo ameaçada por defender um criminoso que supostamente matou um policial. As coisas pioram quando seu amigo Rosewood (Judge Reinhold, reprisando seu papel) desapareceu e ainda deve lidar com a relação entre pai e filha que azedou há muito tempo.
O diretor estreante Mark Molloy perdeu a chance de dar um início digno e coloca uma história óbvia, que faz o espectador saber quem é o vilão nos primeiros 10 minutos. Ele também utiliza de um recurso atualmente em alta na volta de franquias onde o protagonista já está mais velho: colocar um ou mais artistas como escada. Nesse caso a escolha foi boa, com o carismático Joseph Gordon-Levitt de “Os Sete de Chicago” como Bobby, policial que acaba sendo um parceiro involuntário de Axel e ainda é ex-namorado de sua filha, o que dá aquele tempero de “buddy comedy”.
Independente dos erros e problemas, Eddie Murphy reina absoluto e leva o filme com um pé nas costas e uma tranquilidade jovial, mesmo que seja perceptível cenas de ação muito mais comedidas por causa da sua idade.
Finalmente a icônica trilha sonora de Harold Faltermeyer atravessa gerações e chega com o devido upgrade pelas mãos de Lorne Balfe que coincidentemente também foi responsável por outra franquia ressuscitada, “Bad Boys – Até o Fim”.
“Um Tira da Pesada 4” tinha tudo para ser uma grande volta, mas coube a Eddie Murphy dizer a que veio, mesmo com uma história manjada e uma direção que não entendeu a preciosidade que tinha em mãos.
Curiosidades:
- Na cena em que Bobby vê a ficha de Axel, ele passa por todas as vezes em que Axel esteve em Beverly Hills. Quando ele olha o ano de 94, diz: “Esse não foi seu melhor momento”. Foi uma piada interna para tirar sarro com “Um Tira da Pesada 3” que foi um fracasso de crítica e bilheteria e foi um dos grandes golpes na carreira de Murphy como ator de cinema.
- Há uma cena em que duas policiais prendem Axel Foley. Uma delas é a filha de Eddie Murphy, Bria L. Murphy.
- O carro de Axel em Detroit é similar num modelo mais novo ao carro que ele tinha no primeiro “Um Tira da Pesada” em 1984.
- A faca do Rambo é outra piada interna, pois em 1984 o primeiro ator a ser pensado para o papel de Axel foi Sylvester Stallone.
- Numa sacada de filme dentro do filme, o ator Christopher McDonald repete seu personagem cômico de “Um Maluco no Golfe” que lançou Adam Sandler na cena do campo de golfe. Poucos sabem, mas isso é o marketing da continuação que vai chegar ano que vem pela Netflix.
- Mais longo filme dos 4 da franquia com 115 minutos.
- Quando Serge não acerta falar o sobrenome de Bobby, é uma homenagem ao personagem que o ator Bronson Pinchot fazia na série “Primo Cruzado”. Nas décadas de 80 e 90 a série ia ao ar na Rede Globo todas as terças na Sessão Aventura.
Ficha Técnica:
Elenco:
Eddie Murphy
Joseph Gordon-Levitt
Taylour Paige
Judge Reinhold
John Ashton
Paul Reiser
Bronson Pinchot
Kevin Bacon
Direção:
Mark Molloy
História e Roteiro:
Will Beall
Tom Gormican
Kevin Etten
Will Beall
Produção:
Jerry Bruckheimer
Eddie Murphy
Chad Oman
Fotografia:
Eduard Grau
Trilha Sonora:
Lorne Balfe
Harold Faltermeyer
