As indicações do Oscar precisam de sua cota de cinebiografias e “Um Completo Desconhecido” preencheu todos esses requisitos, com a história do início da carreira de Bob Dylan.
Com mais de 55 álbuns produzidos, o filme de James Mangold (“Indiana Jones e a Relíquia do Destino”) foca nos primeiros 5 anos da meteórica carreira do cantor, cuja genialidade foi detectada pelo percursor da folk music, Pete Seeger (Edward Norton de “Asteroid City”), além de suas relações com as mulheres e sua evolução de estilos.
Apesar do reconhecimento de Dylan como ícone musical, o brasileiro médio pouco conhece, principalmente em pleno 2025, pois o folk – gênero musical baseado em tradições populares, com melodias simples, letras narrativas e instrumentos acústicos – nunca foi um gênero popular no Brasil e seus representantes o utilizaram apenas temporariamente nos anos 60 e 70 como Geraldo Vandré, Zé Ramalho e Belchior, incorporando essa estética em suas canções de protesto e narrativas poéticas.
Como a importância do folk ocupa pelo menos um terço da essência do roteiro, o cinéfilo brasileiro pode não achar tão relevante, principalmente o clímax que versa justamente sobre a pureza do folk no meio de um festival de música.
Tem mais um terço que chamo de “aprendendo a conhecer as músicas de Bob”: o diretor investe grande parte de suas 2 horas e 20 minutos apresentando várias de suas canções, como a primeira que o colocou nos holofotes, “Blowin’ in the Wind”, seguida de “Don’t Think Twice, It’s All Right”, “The Times They Are A-Changin'”, até sua evolução para o abstrato e elétrico em 1965 com “Mr. Tambourine Man” e “Like a Rolling Stone”. São apenas algumas das inúmeras que permeiam a narrativa.
Finalmente chegamos ao terço em que podemos apreciar o ator Timothée Chalamet (da franquia “Duna”) encarnar o próprio cantor onde um estudo minucioso dele o fez pegar o exato tom de voz, trejeitos e maneirismos que renderam a ele a corretíssima indicação a vários prêmios (ele acabou ganhando o do SAG Awards). O elenco coadjuvante também está ótimo, com destaque para Monica Barbaro (“Top Gun – Maverick” que está apaixonante como a cantora Joan Baez.
Baseado no livro de Elijah Wald, “Um Completo Desconhecido” manda bem ensinando o “beabá” do folk e de seu maior ícone, Bob Dylan com interpretações inesquecíveis, mesmo que seja apenas um recorte e mais didático do que talvez devesse.
Curiosidades:
- Edward Norton chamou a própria cantora Joan Baez para servir de consultora sobre os acontecimentos da época e para a personagem de Monica Barbaro.
- Todo o elenco cantou com suas próprias vozes.
- Edward Norton tocou com a verdadeira guitarra de seu personagem Peter Seeger.
- Apesar de no filme Joan Baez cantar a música “It ain’t me” no último show mostrado no filme que se passa em 1965, na verdade isso aconteceu 1 ano antes. Em 1965, eles já não se falavam mais e ficaram afastados durante 10 anos. Foi uma licença poética para criar um clímax mais próximo do final.
- A personagem Sylvie (Elle Fanning de “Destinos Cruzados“) foi inspirada na namorada de Dylan na época Suze. Os nomes foram trocados a pedido do próprio Bob Dylan para não haver uma exposição – segundo ele – desnecessária.
- O verdadeiro nome de Bob Dylan é Robert Zimmerman. Ele primeiramente adotou o nome Bob Dillian, mas depois mudou para Dylan em 1961 em homenagem ao artista Dylan Thomas.
- Johnny Cash que aparece no filme, interpretado por Boyd Holbrook (“Clube dos Vândalos”), já foi tema de outra cinebiografia dirigida por James Mangold, “Johnny & June”, onde cash foi interpretado por Joaquin Phoenix. Chegou-se a pensar nele para o papel, mas seria impossível, pela idade avançada, já que Phoenix estava com 50 anos na época das filmagens enquanto o personagem teria pouco mais de 30 anos (detalhe: Boyd Holbrook tinha 43 anos durante as filmagens).
- A inspiração de Dylan era o cantor Woody Guthrie que conhecemos logo no início do filme, interpretado por Scoot McNairy (“Não Fale o Mal”). No filme, Guthrie já aparece doente, mas não se fala qual é a doença. Na verdade, ele tinha a Síndrome de Huntington, uma doença neurodegenerativa hereditária que causa a deterioração progressiva dos neurônios, levando a problemas motores, cognitivos e psiquiátricos. É causada por uma mutação no gene HTT e não tem cura, com sintomas que costumam aparecer entre os 30 e 50 anos. Ele morreu de complicações da doença aos 55 anos em 1967. Infelizmente suas duas filhas também tiveram a doença e ambas faleceram aos 41 anos.
Ficha Técnica:
Elenco:
Timothée Chalamet
Elle Fanning
Edward Norton
Monica Barbaro
Boyd Holbrook
Scoot McNairy
Dan Fogler
Joe Tippett
Eriko Hatsune
Peter Gray Lewis
Riley Hashimoto
David Alan Basche
James Austin Johnson
Norbert Leo Butz
Alaina Surgener
Direção:
James Mangold
História e Roteiro:
James Mangold
Jay Cocks
Produção:
Fred Berger
Bob Bookman
Timothée Chalamet
Alan Gasmer
Alex Heineman
Peter Jaysen
James Mangold
Jeff Rosen
Fotografia:
Phedon Papamichael