Um Cadáver Para Sobreviver (“Swiss Army Man”)

É uma espécie de comédia dramática abstrata musical estilística com boas mensagens, mesmo que o roteiro em si seja mais coadjuvante.

Paul Dano (“12 Anos de Escravidão”) é Hank, jovem que naufragou numa ilha deserta e depois de muitas tentativas inúteis sair, opta por se suicidar. Prestes a isso ele enxerga um corpo trazido pelo mar e resolve verificar. O cadáver é Daniel Radcliffe (“Truque de Mestre: O 2º Ato”), que, mesmo morto, revela ter poderes especiais que fazem com que o incrédulo Hank saia da ilha, aporte em terra firme e procure o caminho de casa, sempre carregando o presunto que vai dar o nome de Manny. Só que Manny começa a falar como um zumbi e os dois engatam uma estranhíssima relação.

O surrealismo da trama flerta com a psicologia questionando a todo momento o espectador se aquilo realmente é real ou se é fruto da imaginação de Hank, que mais tarde se revela uma pessoa depressiva e disfuncional. O dualismo entre imaginação e realidade, mesmo que o público ainda não saiba no que acreditar, gera uma profunda intimidade entre os personagens ou talvez um autoconhecimento do jovem náufrago, quando ele é confrontado por Manny pelos seus propósitos e inclusive lança a grande pergunta sobre porque vale a pena viver.

Apesar do último ato ter uma resposta um tanto dúbia, isto é, cabe mais de uma interpretação, o caminho percorrido tem uma plasticidade deslumbrante. A cenografia que mostra uma quase simulação da vida de Hank através do lixo – e aí outra dualidade: o que é descartável nas nossas vidas e se elas mesmo o são – é digna de aplausos, como um ônibus feito de papelão, folhas de árvores e uma interessante engenhoca que dá a impressão de movimento pela janela como forma de ensinar Manny como era quando ele estava vivo.

A trilha sonora é uma atração à parte onde o compositor Andy Hull fez uma série de capelas que se misturam às vozes da dupla de protagonista, num efeito envolvente que quase nos faz esquecer que existe uma história a ser contada. Dano está correto, enquanto Radcliffe se supera no papel de cadáver, o qual necessita de um controle corporal e mental muito forte. O terceiro ato é ao mesmo tempo edificante e parte o coração, além de conter uma subjetividade que pode tender para um final feliz ou não.

Um Cadáver Para Sobreviver” não é perfeito, pois esse excesso de subjetividade dá vazão a mais questões do que respostas, mas é encantador com desempenhos carismáticos, fotografia belíssima e uma trilha inigualável.

Curiosidades:
– Quem dirige o filme é uma dupla, Daniel Kwan e Daniel Scheinert. Nos créditos eles se apresentam como Daniels.
– Interessante notar que na dupla de protagonistas existe um Daniel e um Dano também.
– Em entrevista, Daniel Radcliffe afirmou que de todos os filmes que ele já fez (incluindo Harry Potter), esse é seu favorito.
– A cena do ônibus presta uma homenagem à comédia oitentista “Um Morto Muito Louco” que também versa sobre um cadáver.
– O nome do personagem de Paul Dano é Hank Thompson numa homenagem a Tom Hanks que fez O Náufrago.

Ficha Técnica

Elenco:
Paul Dano
Daniel Radcliffe
Mary Elizabeth Winstead
Antonia Ribero
Timothy Eulich
Richard Gross
Marika Casteel

Direção:
Dan Kwan
Daniel Scheinert

Produção:
Miranda Bailey
Lawrence Inglee
Lauren Mann
Amanda Marshall
Eyal Rimmon
Jonathan Wang

Fotografia:
Larkin Seiple

Trilha Sonora:
Andy Hull
Robert McDowell

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