Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (“Everything Everywhere All at Once”)

Escolha o gênero que quiser: comédia besteirol, ação, drama existencial, drama familiar, romance, ficção científica… e você vai acertar, pois a produção dirigida pela dupla Dan Kwan e Daniel Scheinert do ótimo “Um Cadáver Para Sobreviver” é tudo isso. Em todo lugar. Ao mesmo tempo. Mas o que torna essa obra sensacional é que o filme é tudo isso e se aprofunda em tudo. Ou seja, é a antítese da obra que mistura gêneros e acaba diluindo sua essência.

Michelle Yeoh de “Mistura Explosiva” é Evelyn, que forma o estereótipo da família imigrante chinesa: dona de uma lavanderia quase falindo, ela rígida com todos, do marido que está quase pedindo divórcio nas costas dela, até com a filha que diverge do tradicionalismo da mãe. É nesse cenário que ela descobre que ela faz parte do multiverso (você leu certo e não está num filme da Marvel). E que em outro universo ela desenvolveu por engano uma criatura que aparentemente quer acabar com as Evelyn’s de todos os universos e provocar um desequilíbrio catastrófico. Só essa Evelyn que aparentemente não tem habilidade nenhuma pode ser a salvação da humanidade.

A sacada de tantos absurdos é que tudo é possível, mas ainda assim, o roteiro consegue dar consistência na narrativa para que em qualquer momento, no multiverso mais maluco que seja, o espectador consiga, não só entender, como comprar a idéia de que isso poderia estar acontecendo dentro do contexto do filme. Inclusive a maneira com que a comédia besteirol se mistura com questões tão sérias é ao mesmo tempo elegante, divertida e inteligente, fazendo o público gargalhar, mas sem tirar atenção da sua urgência.

As referências pop são inúmeras, indo desde “Matrix”, passando obviamente pelos filmes da Marvel, até em animes ou filmes como “Scott Pilgrim Contra o Mundo”. E a sacanagem que eles fazem com “Ratatoulle” da Pixar é ótima.

Os efeitos especiais são excelente, justamente por serem caseiros e dependerem de muitos efeitos mecânicos e edições eletrizantes que chegam a revezar, live action, animação e ainda algumas cenas emblemáticas como a da duas rochas conversando (sim, é isso mesmo).

Só que também o filme é carregado de emoção e lança questões existenciais importantes a começar pela própria essência do multiverso onde cada decisão feita abre espaço para o universo onde a mesma pessoa teria tomado a decisão contrária: é possível um universo que alguém tomasse todas as decisões erradas? E como conviver com isso? Traria oportunidades? São essas perguntas que permeiam principalmente o relacionamento entre a protagonista e seu marido e filha, onde a vilã é a própria alusão ao abandono à depressão e ao abandono da estrutura familiar, inclusive com críticas sociais de costumes contundente, visto que a filha é gay para desgosto da mãe, enquanto há um universo onde a própria Evelyn se relaciona com uma mulher.

Aliás, os intérpretes de seu marido e sua filha, Ke Huy Quan e Stephanie Hsu (de “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis“) tem um carisma absurdo e já se posicionam como estrelas de primeira grandeza.

“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” mexe com toda a estrutura cinematográfica e dramática com um dos melhores e mais peculiares filmes do ano que vai gerar emoções conflitantes e não tem medo de ousar para todas as direções e com força em tudo o que faz. Imperdível.

Curiosidades:

– Todos os efeitos especiais foram feitos por 9 pessoas e nenhuma delas especializada em efeitos especiais. Eles aprendeream tudo em tutoriais do YouTube.
– Em algumas cenas os artistas tiveram que atuar em câmera lenta para ser possível fazer as edições necessárias para os efeitos especiais.
– Há uma cena em que mostra Evelyn como uma artista de sucesso. Para essa cena todas as montagens foram de cenas reais em tapetes vermelhos da atriz Michelle Yeoh. Inclusive dá pra ver que uma delas é na premiere do filmaço “Podres de Ricos“.
– O nome da vilã Jobu Tupaki significa “arma de bolso”.
– O ticket da lavanderia mostrado por uma das personagens é 42 que é o número resposta para todas as coisas do universo em “O Guia do Mochileiro das Galáxias“.
– Everlyn fala com seu pai em cantonês, com seu marido em mandarim e com sua filha em inglês e mandarim. Um dos pontos dessa peculiaridade é que a língua também pode ser uma barreira entre relacionamentos (inclusive quando a família está declarando impostos na receita).
– Ke Huy Quan (o marido) fez 90% de suas cenas de luta sem dublê. Ele já foi assistente de luta de Jackie Chan.
– O diretor Daniel Scheinert faz uma aparição vestido de macaco numa cena que faz paródia de “2001 – Uma Odisséia no Espaço”. Todos os macacos da cena são o diretor. Sendo que a música no trompete desa cena foi tocada pelo outro diretor, Daniel Kwan, que não é músico profissional.
– A cena das rochas foi filmada a 47ºC e estava tão quente que derreteu o sapato de um dos diretores.

Ficha Técnica

Elenco:
Michelle Yeoh
Stephanie Hsu
Ke Huy Quan
James Hong
Jamie Lee Curtis
Tallie Medel
Jenny Slate
Harry Shum Jr.
Biff Wiff
Sunita Mani
Aaron Lazar
Brian Le
Andy Le
Narayana Cabral
Chelsey Goldsmith
Craig Henningsen
Anthony Molinari

Direção:
Dan Kwan
Daniel Scheinert

Produção:
Dan Kwan
Mike Larocca
Anthony Russo
Joe Russo
Daniel Scheinert
Jonathan Wang

Fotografia:
Larkin Seiple

Trilha Sonora:
Son Lux

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