James Gunn se deu uma missão quase impossível: rivalizar com o universo de heróis da Marvel, que já veio sendo construído ao longo de mais de 15 anos em um filme. Não teve jeito: algumas decisões criativas duras tiveram que ser tomadas para que isso acontecesse.
A primeira foi explicar o que a Marvel demorou uma década em poucas legendas que mal chegam a 2 minutos de duração do início do filme. O Superman já existe e todos o conhecem, os meta-humanos (os mutantes no dialeto DC) já existem e formam até um grupo de heróis. Lex Luthor já é um vilão e chega no “doze”. Se fosse uma série, é como se a gente começasse vendo pela segunda ou terceira temporada.
A história, como se fosse simplesmente a continuação de uma outra história é: Luthor (Nicholas Hoult de “A Ordem”, ótimo por sinal) arma mais um plano para desacreditar e derrotar Superman (David Corenswet de “Twisters”). Sim, é simples assim, apesar do tal plano ter suas nuances mais para criar recheio do que necessariamente desenvolver um arco dramático.
Com o obstáculo narrativo de ter que entregar um universo pronto, Gunn toma a maioria das decisões corretas, como sutilmente explicar a grande parte (mas não todos) dos eventos do passado através de alguns bons diálogos ou flashbacks.
O lado ruim é que o espectador dificilmente vai construir uma empatia pelos personagens nesse primeiro filme, já que tudo é jogado na cara dele com classe, mas de uma vez só. É muita informação. Tanto que há um momento na transição do segundo ato, que é totalmente disruptivo com toda a tradição do herói (tem a ver com os pais dele) e passa como mais um evento no filme.
O que faz com que se torne mais destacado um ponto importante que é a crítica social sobre minorias e racismo, já que toda a raiva de Luthor gira em torno de Superman não só ser um meta-humano (minoria), como também extraterrestre (imigrante), o que dialoga diretamente com o momento em que vivemos. Por isso que as piruetas do roteirista e diretor talvez sejam propositais para fazer com que esse aspecto seja tão relevante como a própria história em sua essência.
Voltando a falar do herói, essa sua nova encarnação sem dúvida é a mais frágil. Nunca pareceu ser tão simples enfraquecer ou até mesmo matar o Superman, como se aqui ele contasse mais com a sorte do que com seus poderes.
Gunn faz um ambiente colorido quase como o contraponto ao universo de Zack Snyder, além de misturar os estilos de “Guardiões da Galáxia” com um “X-Men” infantil e ainda com toques de “John Wick”, já que Kypto, o cachorro cuja origem não foi explicada é uma peça-chave na narrativa, além de ser um bom alívio cômico.
Longe de ser épico, a produção que se passa apenas em 2 ou 3 lugares, pega o público num jato que conserta a própria asa enquanto voa, supera todas as dificuldades e, com poucas escolhas ruins (a guinchada da Mulher-Gavião é terrível), consegue entregar diversão, algumas boas surpresas, um elenco carismático, diálogos decentes, efeitos especiais impecáveis e ação, tudo na medida certa.
Curiosidades:
- Primeira vez desde o Superman clássico de Christopher Reeve que o herói usa um ‘S’ amarelo na capa.
- Ironicamente, apesar de Luthor ser claramente xenófobo, a atriz que interpreta sua namorada, Sara Sampaio, é portuguesa e a que interpreta sua capanga, María Gabriela de Faría, é venezuelana. Claramente Luthor é uma alusão a Donald Trump.
- David Corenswet é o Superman mais alto da franquia, empatado com Christopher Reeve.
Ficha Técnica:
Elenco:
David Corenswet
Alan Tudyk
Grace Chan
Bradley Cooper
Angela Sarafyan
Michael Rooker
Pom Klementieff
María Gabriela de Faría
Sara Sampaio
Tatiana Piper
Bonnie Discepolo
Terence Rosemore
Paul Kim
Nicholas Hoult
Wendell Pierce
Beck Bennett
Neva Howell
Pruitt Taylor Vince
Skyler Gisondo
Rachel Brosnahan
Christopher McDonald
Zlatko Buric
Frank Grillo
Edi Gathegi
Nathan Fillion
Isabela Merced
Direção:
James Gunn
História e Roteiro:
James Gunn
Produção:
James Gunn
Peter Safran
Fotografia:
Henry Braham
Trilha Sonora:
David Fleming
John Murphy