Retrato de uma Jovem em Chamas (“Portrait de la jeune fille en feu”)

Assisti na semana passada “Elisa & Marcela” e já escrevi a crítica aqui no nosso site. Para quem também já viu, saiba que “Retrato de Uma Jovem em Chamas” está a uns bons passos à frente.

A produção francesa mostra Marianne (Noémie Merlant), uma pintora que é contratada para ir a uma pequena comunidade em uma ilha afastada para pintar o quadro da filha da contratante, Heloise (Adèle Haenel). Com um detalhe: como Heloise é arredia, a pintora deve fazer o quadro às escondidas, ou seja, fingir que está lá como uma acompanhante da moça e ir captando os traços para depois passar para o quadro. A aproximação das duas vai gerar uma relação avassaladora.

O roteiro é tratado com um cuidado onde o fundamental foi desenvolver as personagens e o relacionamento ao mesmo tempo, onde o espectador se deslumbra com as fraquezas e fortalezas de cada uma e como suas diferenças contribuem para o desenvolvimento da trama. Ainda tem o cuidado de adicionar a subtrama da criada (Luàna Bajrami) para demonstrar que, muito mais que apenas paixão, a narrativa fala de amizade e de um relacionamento muito mais amplo de cumplicidade entre as personagens que esbarra em todos os preconceitos da época sem nunca querer polemizar.

Até o erotismo é usado para construção da história e não meramente como ferramenta apelativa. Por sinal a diretora Céline Sciamma consegue composições belíssimas dos corpos das atrizes com imagens e diálogos que fortificam o resultado. Ainda mais: essa composição é estudada a cada quadro. A cena em que a criada anda carregando o vestido e de Heloise no início para fazer suspense é genial.

A dupla de protagonistas está afiada e incorporam perfeitamente as camadas emocionais a que foram submetidas a força de Merlant e a sutileza apaixonante de Haenel produzem uma jornada de personagens singela e relevante.

Retrato de Uma Jovem em Chamas” é uma das grandes produções dos últimos anos que trata mais que o amor entre duas mulheres, mas todos os aspectos que envolvem uma relação sem se deixar perder pelo ativismo fácil.

Curiosidades:

– A pintora de todos os quadros do filme se chama Hélène Delmaire, e a atriz Noémie Merlant trabalhou junto dela por semanas para aprender as suas técnicas. O maior desafio do aprendizado é que a pintora é destra e a atriz é canhota.
– A música que se canta no festival da ilha é em latim e seu título significa “Elas não podem escapar”.
– A diretora Céline Sciamma e a atriz Adèle Haenel são ex-namoradas. Elas terminaram amigavelmente antes das filmagens. Antes disso a diretora havia feito mais dois filmes com Haenel.

Ficha Técnica

Elenco:
Noémie Merlant
Adèle Haenel
Luàna Bajrami
Valeria Golino
Christel Baras
Armande Boulanger
Guy Delamarche
Clément Bouyssou

Direção:
Céline Sciamma

Produção:
Bénédicte Couvreur

Fotografia:
Claire Mathon

Trilha Sonora:
Jean-Baptiste de Laubier
Arthur Simonini

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