Para quem gostou de “É Assim que Acaba” e quer manter a linha de explorar obras sobre relacionamento tóxicos, “Querida Alice” pode ser uma pedida razoável, por ter uma abordagem um tanto diferente.
Anna Kendrick de “Passageiro Acidental” é a Alice do texto que namora com o redpill Simon (o desconhecido ator Charlie Carrick). O filme inicia sem dar muitas pistas, já que a história se passa no meio do relacionamento, mas começa a dar pistas pelo comportamento de autoflagelo que a protagonista tem consigo mesma. Quando ela viaja no fim de semana com duas amigas e fica longe do namorado, esses traumas começam a ser cada vez mais externalizados.
Kendrick consegue sumarizar as dores do que o relacionamento tóxico causa nela mesma, ainda que longe da presença de sua contraparte. Mesmo nas nuances contemplativas, no seu olhar vago e nos pequenos gestos, o espectador consegue ver brotar a semente desse fardo psicológico que acaba por machucar e deprimir ainda mais a personagens.
A dinâmica com suas amigas aqui interpretadas pela ótima Wunmi Mosaku de “Disque Jane” e por Kaniehtiio Horn de “Na Estrada” são o ponto alto do filme, pois amplia o enfoque que sai do círculo tóxico para ser percebido por terceiros.
Só que a diretora Mary Nighy em sua estréia em longas metragens optou por prolongar muito essa mensagem comportamental que já tinha sido vendida ao público, apenas para esticar a trama, e ainda inseriu uma subtrama de uma jovem desaparecida que busca desesperadamente fazer uma analogia com a violência doméstica, mas termina sem ter agregado nada, nem mesmo ao autoconhecimento de qualquer personagem.
Inclusive o terceiro ato é o mais fraco, pois ela deixa a sutileza de lado e mergulha em clichês de sororidade do gênero que arranca parte da complexidade da conexão humana entre as amigas e namorado, a qual era, até então, o ponto alto.
“Querida Alice” tem uma protagonista forte e que cria uma forte afinidade com situações tóxicas, mas também tem muita gordura desnecessária que poderia ter sido convertida em mais profundidade.
Curiosidade:
- A própria Anna Kendrick disse que um dos motivos que a fez aceitar o papel foi porque ela mesma tinha saído recentemente de uma relação tóxica, mas não citou quem foi o ex-namorado. Nos últimos anos antes desse filme ela teve dois relacionamentos: com o diretor de fotografia Ben Richardson e com o ator e comediante Bill Hader que contracenou com ela em “Noelle”.
- O livro que a amiga Tess lê para Alice é Sra. Dalloway de Virginia Woolf.
Ficha Técnica:
Elenco:
Anna Kendrick
Kaniehtiio Horn
Charlie Carrick
Wunmi Mosaku
Mark Winnick
Direção:
Mary Nighy
História e Roteiro:
Alanna Francis
Mark Van de Ven
Produção:
Katie Bird Nolan
Christina Piovesan
Noah Segal
Lindsay Tapscott
Fotografia:
Mike McLaughlin
Trilha Sonora:
Owen Pallett
