Não sei bem qual a idéia do diretor Luca Guadagino – que acabara de sair de “Rivais”, um de seus melhores filmes – mas o resultado deste nem dá para dizer que é o filme em que Daniel Craig faz o contraponto de seu icônico e másculo James Bond como um personagem gay, pois essa sexualidade já foi – e está sendo – explorada na franquia “Entre Facas e Segredos”. No máximo dá para dizer que é o filme em que Daniel Craig filme um soft porn com outros homens.
Ele é William, um expatriado de meia idade que vive no México na década de 50 e, sem que o espectador tenha a menor idéia do que ele faz, a história o mostra como uma espécie de pervertido que anda de bar em bar em busca de prazer barato, mas que na verdade é o desespero por conexão. Quando ele encontra o jovem estudante Eugene (Drew Starkey do mais recente “Hellraiser”), seus sentimentos se transformam em obsessão, juntamente com o desejo de se sentir um homem atraente e relevante novamente.
Só que o protagonista também tem uma certa obsessão com uma planta que, em sua cabeça, daria poderes telepáticos àqueles que a experimentassem como já, mas ela só cresce na Amazônia Colombiana.
O que uma coisa tem a ver com a outra? Nada, mas o diretor não se furta em misturar, alhos, bugalhos, cenas de sexo para causar, tomadas puramente abstratas, das quais acerta somente 20%, mas acaba esquecendo justamente de contar a história.
Informações elementares sobre a dinâmica dos personagens não são passadas e quando a história dá uma guinada em seu último ato, a construção que havia sido feita perde o sentido, mesmo que em seu desfecho, o que deveria ser o tema principal da narrativa volte apenas para um aceno.
Craig está excelente, mas apenas encarnar e mergulhar em outra sexualidade de forma mais explícita sem uma boa história para sustentar não ajuda na performance. Por falar em atuação, se por um lado, Starkey, que deveria ser um dos pilares da história fica apenas no piloto automático, as poucas aparições do até então comediante Jason Schwartzman (“Megalópolis”) como amigo de William sempre são mais interessantes que a cena em si.
Baseado na obra de William S. Burroughs, “Queer” é chato, como um emaranhado de idéias objetivas e subjetivas cujo encaixe não funciona e se limita a um Craig muito bom, mas perdido em si mesmo.
Curiosidades:
- Foi Daniel Craig que escolheu Drew Starkey durante as audições.
- Uma das questões subjetivas tratadas no filme é o extenso uso de miniaturas para representar a Cidade do México.
- A idéia de colocar duas músicas do Nirvana foi porque o Vocalista Kurt Cobain conhecia o autor William S. Burroughs e até fez uma colaboração mútua no EP “The “Priest” They Called Him” lançado em 1993.
- Inclusive o protagonista William é o alter ego de seu autor William S. Burroughs e apareceu em outros de seus livros.
Ficha Técnica:
Elenco:
Daniel Craig
Drew Starkey
Jason Schwartzman
Daan de Wit
Henrique Zaga
Colin Bates
Drew Droege
Ariel Schulman
Andra Ursuta
David Lowery
Direção:
Luca Guadagnino
História e Roteiro:
Justin Kuritzkes
Produção:
Luca Guadagnino
Lorenzo Mieli
Fotografia:
Sayombhu Mukdeeprom
Trilha Sonora:
Trent Reznor
Atticus Ross