Nunca dei muita bola para a filha de Lenny Kravitz, Zoë, mesmo já tendo ocupado alguns papéis de destaque e bem feitos como a Mulher-Gato de “Batman”. Por isso mesmo fiquei impressionado com a maravilhosa estréia dela como diretora de um filme que ela mesmo escreveu em parceria com E.T. Feigenbaum.
Channing Tatum que levou os fãs da Marvel ao delírio como o Gambit em “Deadpool & Wolverine”, é Slater um bilionário que depois de um escândalo (que ninguém conta ao espectador sobre o que é, mas nem vem ao caso), vive recluso numa ilha dividindo bons momentos com seus amigos.
Numa de suas palestras, conhece a garçonete Frida (Naomi Ackie que fez a Whitney Houston em “I Wanna Dance With Somebody”), pinta uma conexão e ela é convidada junto com sua amiga Jess (Alia Shawkat de “Apresentando os Ricardos”) para curtir na ilha paradisíaca do magnata. Chegando lá, tudo é festa, bebida, comida e drogas, mas Frida passa a desconfiar de que há algo de muito errado acontecendo.
A primeira sacada do roteiro e direção é a própria diversão na ilha se passando como dias que se repetem, o que lembra muito “Feitiço do Tempo” e os cortes rápidos de Kravitz fazem com que a dinâmica não canse, e intrigue cada vez mais o espectador até porque aparentemente tudo está no seu lugar e todos estão se divertindo. Até o meio do segundo ato, quando descobre-se o primeiro plot twist.
A segunda e maior reviravolta é no estilo “Sexto Sentido”, pois a história vai dando as dicas desde logo no início até que no momento certo, tudo é revelado. Aliás, Zoë Kravitz tem um timing ótimo para suspense e revelação.
Em retrospecto, o filme acaba sendo uma comédia de humor negro, que trata de um assunto muito delicado que ninguém sabe até que se descubra e, mesmo tendo umas pitadas de terror (ou mais para tensão mesmo), entende-se no final que o ser humano ainda consegue ser pior do que todas essas entidades sobrenaturais de filmes de terror de verdade.
“Pisque Duas Vezes” é espertíssimo, engraçado e tenso ao mesmo tempo, violento quando tem que ser, dinâmico e inteligente. Só tem um grande erro de roteiro, mas explico nas curiosidades. Basta dizer que Zoë Kravitz começou sua carreira melhor que muita gente que já tem estrada por aí.
Curiosidade:
- Como já citado o filme tem um plot twist no estilo de “Sexto Sentido” e, coincidência ou não, Haley Joel Osment que fez o garotinho que via gente morta o tempo todo, atua neste filme.
***SPOILER – SÓ LEIA PÓS TER ASSISTIDO AO FILME***
- No final as mulheres eram violentadas e estupradas todas as noites e esqueciam tudo no dia seguinte por causa de uma fórmula desenvolvida por Slater e que ficava no perfume que elas passavam. O furo no roteiro é que esse esquecimento é seletivo e os personagens só esquecem aquilo que o roteiro quer que esqueçam. Como as mulheres esqueciam a violência, mas lembravam que estavam na ilha e que se conheciam? Como elas esqueceram da Jess que desapareceu, mas lembravam das que ficaram. E no fim Slater esquece de tudo o que fez, mas lembra dos seus amigos. Porém só de alguns, pois na última cena quando aparece seu terapeuta, ele também não lembra.
- Vermelho é a cor gatilho do filme (coelho vermelho) e também é a cor gatilho em “Sexto Sentido”.
Ficha Técnica:
Elenco:
Naomi Ackie
Channing Tatum
Alia Shawkat
Christian Slater
Simon Rex
Adria Arjona
Haley Joel Osment
Liz Caribel
Levon Hawke
Trew Mullen
Geena Davis
Kyle MacLachlan
Cris Costa
Direção:
Zoë Kravitz
História e Roteiro:
Zoë Kravitz
E.T. Feigenbaum
Produção:
Bruce Cohen
Zoë Kravitz
Garret Levitz
Tiffany Persons
Channing Tatum
Fotografia:
Adam Newport-Berra
Trilha Sonora:
Chanda Dancy