Pequenas Coisas Como Estas (“Small Things Like These”)

Como era de se esperar, depois de um blockbuster sucesso em crítica e bilheteria, o premiadíssimo Cillian Murphy de “Oppenheimer” escolheu fazer um filme menor, independente e próximo de sua casa, a Irlanda.

Ele é Bill, que tem uma pequena fábrica de carvão numa também pequena e religiosa cidadezinha no interior da Irlanda. Abastecendo o convento das freiras Madalenas local, ele começa a ficar indignado com o tratamento de semiescravidão que é dado para as meninas que lá ficam.

Essa premissa deveria ser suficiente para movimentar os acontecimentos, mas o filme, baseado na obra de Claire Keegan, tomou decisões narrativas muito equivocadas.

Primeiro que para justificar essa indignação, o roteiro cria um passado sobre a infância de Bill que quase nada tem a ver com os eventos presentes: o fato de que ele foi bem tratado por uma estranha após uma tragédia familiar justifica ele ser gentil com todo mundo. Da maneira que foi retratada na produção, essa subtrama do passado agrega pouquíssimo e toma um tempo valioso do filme que poderia estar desenvolvendo mais seu personagem sem necessariamente uma justificativa do passado. Aliás, tenta-se a todo momento justificar as atitudes do protagonista, como o fato dele ter 5 filhas (haja disposição).

Outro problema é que em dado momento, fica muito claro que o que acontece no convento é de conhecimento geral da cidade e todo mundo fica quieto porque a igreja tem uma influência muito forte em todas as atividades. Só que para o espectador, a impressão é que Bill ficou ciente depois de todos.

Dessa forma, a história passa a perder sua coerência, principalmente num ritmo que vai se construindo lentamente, fica fácil para o público perceber as incongruências.

Para piorar, a surpresa é que o filme acaba na metade. Ele não finaliza nenhuma de suas tramas. De repente termina sem mostrar as consequências de uma possível intervenção de Bill, seja do convento ou de sua família, além do fato de que a trama do passado do personagem é simplesmente esquecida no meio do caminho.

Não dá para saber se o problema está no livro ou na adaptação, mas se o diretor não vislumbrou essas questões de imediato, fica difícil ter êxito.

No mais, Cillian Murphy está sempre muito bem, a direção de fotografia de Frank van den Eeden (“Movimento Browniano”) retrata muito bem a aura da comunidade – inclusive foi filmada em Wexford, onde se passa o filme – e a quase ausência de trilha sonora cria tensão nos momentos certos, mesmo que desemboque numa ausência de finalização.

Pequenas Coisas Como Estas” é moroso e fica cada vez mais chato quando se percebe que a história não consegue se encaixar e afunda num final abrupto e frustrante.

Curiosidades:

  • O livro, e portanto, sua adaptação, é baseado em eventos reais: O filme aborda as Lavanderias de Madalena, instituições administradas pela Igreja Católica que, entre os séculos XVIII e XX, abrigavam mulheres consideradas desviantes ou problemáticas pela sociedade da época. Essas instituições ficaram conhecidas por explorar o trabalho das internas e violar seus direitos básicos, sendo um capítulo sombrio da história irlandesa.
  • A idéia de fazer o filme foi da esposa de Cillian Murphy. No set de “Oppenheimer”, ele fez um pitch para Matt Damon que decidiu produzir o filme junto com Ben Affleck.
  • Cillian Murphy disse que sonhou com a atriz Emily Watson no filme e por isso a escalou.

Ficha Técnica:

Elenco:
Cillian Murphy
Emily Watson
Eileen Walsh
Patrick Ryan
Peter Claffey
Ian O’Reilly
Helen Behan
Zara Devlin
Michelle Fairley
Mark McKenna
Clare Dunne
Joanne Crawford
Aidan O’Hare

Direção:
Tim Mielants

História e Roteiro:
Enda Walsh

Produção:
Matt Damon
Catherine Magee
Alan Moloney
Cillian Murphy
Drew Vinton

Fotografia:
Frank van den Eeden

Trilha Sonora:
Senjan Jansen

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