NÃO SAIA DO CINEMA ANTES DO FINAL DOS CRÉDITOS
Dito isso, vamos lá. Cada geração tem o seu “Um Drink no Inferno” e este vem na versão “Pantera Negra” com a dupla inseparável Ryan Coogler e Michael B. Jordan como diretor e protagonista respectivamente. Se você não entendeu a referência, convido a ver o clássico de Robert Rodriguez com roteiro de Tarantino feito em 1996 e que foi a inspiração para Coogler confessamente em entrevista.
Jordan interpreta os irmãos gêmeos Smoke e Stag que em 1932 retornam de Chicago para o Mississipi depois de terem trabalhado para Al Capone e aparentemente juntaram dinheiro o suficiente para abrir uma casa de blues e tentar ganhar ainda mais dinheiro.
Até pouco mais da metade acompanhamos nossos anti-heróis que em paralelo a juntar seus amigos da época para conseguir montar a casa, ainda precisam enfrentar dramas pessoas amorosos e familiares. No dia da abertura da casa – quase entrando no último terço do filme – DO NADA aparecem vampiros e eles precisam lutar para se salvar até o amanhecer.
Sim, a essência narrativa é idêntica a “Um Drink no Inferno”, só que menos trash e um pouco mais sofisticado. É interessante que Coogler talvez tenha conseguido um ritmo melhor antes dos vampiros do que depois (mesmo ainda sendo ótimo), onde fica oscilando entre o drama e a ação, numa até certo ponto gostosa construção da própria imagem do vampiro que, na década de 30, ainda pouco se conhecia da obra de Bram Stoker.
A melhor cena, entretanto, tem como protagonistas, o ator Miles Caton em seu primeiro papel, com uma voz que arrepia e dá credibilidade para a introdução do filme em que se diz que existem músicas que atraem o passado e o presente; além da direção e da trilha sobrenatural de Ludwig Göransson de “Oppenheimer”. E pasme: é uma cena musical com coreografias melhores do que muitos musicais que já passaram por aí.
Até os vampiros tem direito a uma música e é por essas e outras que o ritmo às vezes desajusta e volta aos trilhos, com alguns momentos de hiato ou indo para o cômico com uma interessante referência a outro filme de Rodriguez, “Prova Final” de 1998 (a cena do alho), que por sua vez pegou a referência do clássico de John Carpenter “O Enigma do Outro Mundo” de 1982.
A cena pós créditos é uma das poucas cenas do gênero que talvez sejam tão relevantes quando o que veio antes e se revela uma ótima sacada.
“Pecadores”, além de algumas boas críticas sociais, foca mais numa ótima diversão com uma construção que há tempo não se via. Para ir sem medo.
Curiosidades:
- Smoke e Stag são os apelidos dos personagens. O nome real de Smoke só é dito 1 vez no filme e o de Stag é dito 3 vezes.
- O vampiro chefe Remmick fala sobre como os cristãos roubaram a terra de seus pais. Como ele é irlandês (ele fala no filme), ele provavelmente era vivo quando a ilha da Irlanda foi colonizada pelos ingleses e depois convertida ao Cristianismo na marra. Isso significa que Remmick teria pelo menos uns 1.300 anos.
***SPOILERS – SÓ LEIA APÓS ASSISTIR AO FILME***
- O nome da banda de Sammie já idoso em 1992 se chama Pearline’s em homenagem ao seu interesse amoroso que morre com os vampiros.
- Aliás, quem interpreta o Sammy já idoso é o famoso Buddy Guy, especialista em Blues, fazendo uma participação.
- Talvez o spoiler mais importante: na cena musical é possível ver gueixas dançando. Isso porque o casal japonês Chow estava no recinto. O que significa que a música mágica de Sammie permite que também venham os espíritos do passado e futuro de quem está escutando. Por isso o vampiro Remmick foi atraído pela música, já que o propósito dele seria ver seus ancestrais que se foram há mais de mil anos.
Ficha Técnica:
Elenco:
Michael B. Jordan
Miles Caton
Delroy Lindo
Hailee Steinfeld
Wunmi Mosaku
Jack O’Connell
Saul Williams
Andrene Ward-Hammond
Tenaj L. Jackson
David Maldonado
Helena Hu
Yao
Sam Malone
Li Jun Li
Jayme Lawson
Omar Benson Miller
Emonie Ellison
Direção:
Ryan Coogler
História e Roteiro:
Ryan Coogler
Produção:
Ryan Coogler
Zinzi Coogler
Sev Ohanian
Fotografia:
Autumn Durald Arkapaw
Trilha Sonora:
Ludwig Göransson