Uma mistura de “Gravidade” com livro de Nicholas Sparks que deu certo.
Num futuro distante, já colonizamos planetas parecidos com a Terra, o que acabou se tornando um negócio para grandes empresas. As pessoas viajam em animação suspensa por mais de 100 anos até chegar lá. Chris Pratt de “Sete Homens e Um Destino” é Jim, um desses passageiros que iria para um novo lar. Problema: a viagem duraria 120 anos e por conta de uma pane, ele acordou “apenas” 90 anos antes. Outro problema: ele não quer ficar sozinho e, dentre os 5 mil passageiros da nave, ele descobre Aurora (Jennifer Lawrence de “X-Men: Apocalipse”) que poderia ser a par perfeita para enfrentar essa solidão. E mais um problema: a pane não afetou uma única parte da nave.
Na maior parte do tempo, o diretor Morten Tyldum do premiado “O Jogo da Intimidação” nos coloca perguntas existenciais intrigantes: viajar mais de um século significa perder a todos que você conhece entre amigos e família, algo que inicialmente impensável, vemos que há milhares de pessoas a fazer. Porque? E o que é passar o resto da vida sozinho numa nave? Acordar alguém para não passar o resto da vida sozinho seria maravilhoso, mas seria uma sentença de morte também para outra pessoa. E agora?
Essa discussão é um pouco diluída pela imensidão de efeitos especiais que também funciona como alívio cômico, além de incitar outra conversa sobre o comportamento dos humanos no futuro e como o capitalismo intergaláctico consegue lucrar com isso. O discurso vazio das promessas comerciais de um futuro melhor encontra-se também na ótima atuação de Michael Sheen (“O Aventureiro: A Maldição da Caixa de Midas”) como Arthur, o robô barman feito para que as pessoas possam conversar com uma inteligência artificial à sua semelhança, mas que ao mesmo tempo se limita ao seu conhecimento apenas mecânico do comportamento humano.
E se a condução do diretor é eficiente em prender a atenção do espectador em um ambiente fechado com apenas duas pessoas e um robô nele, Pratt e Lawerence não são os queridinhos de Hollywood à toa: seu carisma é inenarrável e em pouco tempo aprendemos a nos afeiçoar a ele ao ponto do desfecho facilmente levar os mais sensíveis às lágrimas.
Destaque para a fotografia do mexicano Rodrigo Prieto (“Dívida de Honra”) que retrata a nave e o espaço com uma dubiedade entre algo ao mesmo tempo amigo ou inimigo, quase dando uma personalidade a ambos.
“Passageiros” é uma ótima discussão filosófica azeitado pela máquina Hollywoodiana de glamour com suas boas parcelas de ação e romance cuja mistura acaba funcionando melhor do que se imagina.
Curiosidades:
– O bar da nave, incluindo o figurino de Arthur, o barman, é praticamente uma cópia do bar do hotel do clássico de terror “O Iluminado“.
– O nome Arthur para o andróide é uma homenagem ao autor de ficção científica Arthur C. Clarke.
– A voz robótica da nave é da mesma mulher que faz a voz do metrô de Londres, Emma Clarke.
– O código de oficial para abrir algumas áreas da nave é o mesmo usado pela Princesa Léia em “Uma Nova Esperança“.
– Jennifer Lawrence ganhou quase o dobro pra ficar menos tempo em cena do que Chris Pratt.
– O símbolo …—… no cartaz do filme é o código Morse para SOS.
Ficha Técnica
Elenco:
Jennifer Lawrence
Chris Pratt
Michael Sheen
Laurence Fishburne
Andy Garcia
Direção:
Morten Tyldum
Produção:
Stephen Hamel
Michael Maher
Ori Marmur
Neal H. Moritz
Fotografia:
Rodrigo Prieto
Trilha Sonora:
Thomas Newman