Como diretor, M. Night Shyamalan é um produtor sensacional, especialmente daquilo que ele não dirige. Sua primeira “apenas produção” foi o melhor filme de terror que ele não dirigiu, “Demônio” em 2010. Ano passado, ele finalizou a aclamada série “Servant” e eis que agora produz um suspense cheio de ótimas reviravoltas, no estilo “piscou, dançou” para quebrar a cabeça do espectador, coisa que os americanos chamam de “Mindblowing” (que explode a mente).
Uma pausa para dizer que a escolha do título foi infeliz, pois é um suspense, digamos, sobrenatural (no sentido de que é algo não natural), mas que não tem nada do “horrores” que descreve o título.
Voltando: Dirigido pelos estreantes em longas metragens Celine Held e Logan George, a história se passa com os moradores desse lago Caddo – que existe de verdade – onde, num período de seca, começa a provocar eventos misteriosos, até que uma garotinha desaparece, mobilizando a cidade.
Tudo isso se passa na visão dos dois personagens principais, Ellie (Eliza Scanlen, que já trabalhou com Shyamalan em “Tempo”), uma jovem rebelde que tem a irmã como desaparecida; e Paris (Dylan O’Brien de “O Alfaiate”), cuja mãe morreu anos antes num acidente de carro, cujo luto ele nunca se recuperou. Ambos vão descobrir uma força misteriosa que pode ser capaz de alterar toda a história de suas famílias.
Não dá para se comentar muito sobre a história para não estragar os spoilers, mas até a metade do filme, tudo é um grande mistério, então o roteiro inteligente investe nos relacionamentos dos personagens para que o espectador crie afinidade e conexão, pois na hora em que a ação começa mais forte e as reviravoltas começam a explicar (ou complicar) o que está acontecendo, passamos a entender a gravidade de cada escolha que a dupla de protagonistas toma. E talvez ainda assim, é possível que os espectadores menos atentos não percebam essa relevância. Por isso, fizemos na área de spoilers, um mapa dos eventos do filme para que todo mundo fique na mesma página sobre tudo o que se passa sem perder uma vírgula.
A produção é bem no estilo Shyalaman: pouquíssimos efeitos especiais, muito conteúdo e ótimas edições que controlam exatamente a hora em que o espectador precisa descobrir determinada informação chave.
O único ponto de melhoria cabe ao desfecho que por ser muito rápido não deixa o público digerir e resultado das decisões tomadas no último ato e se aprofundar no entendimento da trama.
No mais, “Os Horrores do Caddo Lake” é suspense que bota no chinelo aqueles de pequenas reviravoltas onde cada segundo conta e com pistas espalhadas por todo o caminho.
Curiosidades:
***SPOILERS – SÓ LEIA DEPOIS DE TER ASSISTIDO AO FILME***
- Então todos sabem que o fenômeno é um portal que faz os personagens viajarem no tempo sempre no ano em que há uma seca no lago. Também descobrimos que o filme se passa em dois momentos diferentes: a trama de Ellie se passa em 2022 e a de Paris em 2005. E que Anna, a garotinha que desaparece em 2022, é salva por Paris quando ele atravessa para 1952. E finalmente, que Anna é a própria mãe de Paris, que morreu no acidente em 1999, sendo Paris o pai de Ellie. E mais ainda: Anna é ao mesmo tempo irmã e avó de Ellie. Vamos mostrar como fica a família dos protagonistas:
- Uma das sacadas do filme, é que Celeste, namorada de Paris em 2005 e mãe de Ellie em 2022, é interpretada por atrizes diferentes, mas bem parecidas e, enquanto Paris a chama de Cee, Daniel, o 2º marido, usa Celeste.
- Agora você já sabe que Paris morre no final. E a relevância disso é que se ele sobrevivesse, talvez ele conseguisse salvar a mãe em 1999 e provavelmente Ellie não teria nascido. Então o desfecho era um ou outro. Por isso a decisão acertada do roteiro de não contemplar a todos com um final feliz.
- O crocodilo tem um corte perfeito porque o portal se fechou quando ele passava. Sabemos disso pois acontece o mesmo com a corda de Ellie no final.
- Quando Ellie está em 2005, o atendente da loja de conveniência que ela entra está usando uma camisa do filme “Sexto Sentido”, a estréia de M. Night Shyalaman no cinema.
- A empresa que está construindo a ponte se chama TVA. Se você pensou na TVA do universo da Marvel por causa das viagens no tempo, abrindo-se multiversos, pode até ser que haja essa “homenagem”. Mas na verdade a TVA é uma organização governamental que existiu mesmo, chamada Tennessee Valley Authority, que desde 1933 é responsável pela eletricidade e organização fluvial de uma das regiões do Estado do Tennessee, empregando milhares de pessoas.
Ficha Técnica:
Elenco:
Dylan O’Brien
Eliza Scanlen
Caroline Falk
Lauren Ambrose
Sam Hennings
Diana Hopper
Eric Lange
David Maldonado
Direção:
Logan George
Celine Held
História e Roteiro:
Logan George
Celine Held
Produção:
Kara Durrett
Josh Godfrey
Ashwin Rajan
M. Night Shyamalan
Fotografia:
Lowell A. Meyer
Trilha Sonora:
David Baloche