Caí na armadilha do filme gospel! Filme gospel é aquele cuja mensagem é panfletária feita para conversão. É uma das situações onde a mensagem é mais forte que a arte e, por isso, dificilmente assisto, apesar de terem feito alguns muito bons (no sentido mais universal, não no nicho gospel), como “Um Vida de Esperança” ou “Eu Só Posso Imaginar”.
A surpresa é que é um filme brasileiro. Não é surpresa que o filme bem conservador foi produzido pelo canal de direita Brasil Paralelo e acaba refletindo os valores da ideologia.
Mas a pergunta que fica é: o filme é bom? Digamos que é mediano.
Com um elenco quase todo desconhecido, o filme se passa durante a ditadura (hum…) e mostra Pedro (Sergio Barreto), um músico, quando sua vida começa a dar errado pela influência de um diabo novo no ofício (Felipe de Barros) cuja missão é arrastar as almas dos que encontram para o inferno. Quando Pedro volta para sua cidade natal no sul, a batalha pela alma dele começa e o diabo Natan (Barros) recebe a ajuda de outro mais experiente, Fausto (Roberto Mallet).
A grande sacada do roteiro é que grande parte do filme é visto pela percepção dos diabos e é muito interessante, como eles interagem parecendo uma empresa, inclusive, na maneira que se referem a Deus como “o concorrente”.
Sem dúvida essa é melhor parte, inclusive quando se descobre uma espécie de conspiração nessa “empresa dos diabos”, com direito a puxada de tapete e tudo mais. Além disso, o modus operandi deles em alguns momentos se aproxima de uma boa aula de pedagogia, com alguns artifícios usados inclusive na polarização política.
O problema é que o filme quer abraçar muito conteúdo e vai se perdendo nas suas longas 2 horas. O protagonista chato não ajuda, o diretor Filipe Valerim quer misturar drama e terror, mas não consegue, e o clímax se arrasta com um final nada satisfatório, principalmente pelo lado do Pedro.
De quebra ainda fizeram questão de pintar os opositores à ditadura como terroristas. Pelo menos isso não toma muito tempo no filme, apesar de um desses momentos ser crucial para o desfecho.
“Oficina do Diabo” poderia ser um filme bem mais interessante se focassem mais no universo dos diabos com as lições pedagógicas, mas depois da metade, vira um recorte de chatice, ideologias, clichês dando pouco espaço para o que estava sendo construído na primeira metade.
Curiosidade:
- Logo após as filmagens acabaram, a atriz Elisângela faleceu. Ela é homenageada nos créditos finais.
- Natan, apesar de ser o nome de um dos diabos principais, significa “Presente de Deus” (acho que não pensaram nisso).
- O diretor Filipe Valerim é também um dos sócios do canal Brasil Paralelo e faz uma participação como Miguel, um dos amigos de Pedro.
Ficha Técnica:
Elenco:
Roberto Mallet
Felipe de Barros
Sergio Barreto
Elizângela
Felipe Folgosi
Rafael Senatore
Ari Willians
Jessica Vasconcelos
Carlos Freitas
Paulo Guilarducci
Filipe Valerim
Erika Eremenko
Direção:
Filipe Valerim
História e Roteiro:
Elton Mesquita
Filipe Valerim
Produção:
Isabela Resende
Fotografia:
André S. Brandão
Rodrigo Prata
Trilha Sonora:
Iuri Cunha
Ian Murray