Tom Cruise finalmente entendeu que sua presença garante no máximo um apelo para o público que o tem como fã (o que não é pouco) e consequentemente a exibição de seus trabalhos no cinema. Mas jamais garante que o filme em questão seja melhor avaliado só porque seu rostinho já cinquentenário aparece na tela. Por isso a escolha de “Oblivion” foi tão acertada, sendo esse um de seus melhores filmes nos últimos anos.
Depois do apenas razoável “Jack Reacher – O Último Tiro”, Cruise é outro Jack, Jack Harper (sem nenhum parentesco com Charlie Harper de “Two and a Half Men”, eu acho). Segundo a verborrágica explicação dele próprio no início, num futuro próximo a Terra deixou de ser habitada depois que uma invasão alienígena praticamente dizimou a raça humana. Mesmo vencendo a guerra, o planeta não sobreviveu e os remanescentes passaram a morar em Titã, lua de Saturno. Então Jack e sua esposa Victoria (Andrea Riseborough de “W.E. – O Romance do Século”) são a única equipe na Terra que cuida das máquinas construídas pelo homem para transferir a energia fornecida dos oceanos para Titã, enquanto devem se esquivar dos poucos aliens que ainda sobraram. Prestes a retornarem pra casa, Jack acha uma nave com seres humanos que vai mudar tudo em que eles acreditavam.
Para um filme com o perfeccionista Tom Cruise é desnecessário dizer que os aspectos técnicos estão no “estado da arte”. Efeitos especiais que beiram a perfeição e compõe uma das mais belas fotografias de um mundo apocalíptico, do indicado ao Oscar por “As Aventuras de Pi”, o chileno Claudio Miranda, bem como a envolvente trilha de Anthony Gonzalez e do grupo M.8.3, a qual mistura drama e romance com os sintetizadores futuristas da ficção científica.
Mas o destaque vai mesmo para a trinca elenco, direção e roteiro. Cruise, comprometido, mesmo com seus maneirismos batidos, não diminui o nível do desempenho geral, enquanto Riseborough surpreende em cada tomada, principalmente na grande reviravolta do último ato. E o diretor Joseph Kosinski de “Tron – O Legado”, consegui materializar o roteiro de forma magistral, com um timing que só vai desagradar quem for bastante apressado para saber as explicações que permeiam narrativas e reviravoltas, visto que elas só se completam mesmo próximo ao fim, numa atitude proposital e acertada de manter o suspense até o último minuto.
Tão bom quanto a originalidade da história, é ver que ela empresta elementos importantes de grandes clássicos da ficção como “2011 – Uma Odisséia no Espaço” e sua continuação “2010 – O Ano em que Faremos Contato”, “Matrix”, “Eu Sou a Lenda” e o excepcional “Lunar”. Isto é, não só surpreende com sua enxurrada de ótimas sacadas, como também ativa a nossa memória afetiva (logicamente pra quem conseguiu perceber as conexões).
“Oblivion” junta um ótimo conjunto de elementos da ficção científica, num roteiro surpreendente e apaixonante, sem dispensar a ação – colocada em harmonia com outros elementos ao invés de ser predominante – e que versa principalmente sobre questões existenciais e, como não podia deixar de ser, o amor. Desde já um dos melhores do ano.
Ficha Técnica
Elenco:
Tom Cruise
Morgan Freeman
Olga Kurylenko
Andrea Riseborough
Nikolaj Coster-Waldau
Melissa Leo
Zoe Bell
Direção:
Joseph Kosinski
Produção:
Peter Chernin
Dylan Clark
Duncan Henderson
Joseph Kosinski
Barry Levine
Fotografia:
Claudio Miranda
Trilha Sonora:
Anthony Gonzalez
M.8.3