Está longe de ser o melhor filme sobre racismo, mas é um dos mais necessários, justamente porque desmistifica os dois lados do conflito e não apenas mostra a ascensão ou injustiça do negro de forma plana e superficial.
Amandla Stenberg de “Como Você É” que também é ativista na vida real, interpreta Starr, filha de família classe média que vive num bairro perigoso, mas que por seu pai ter condições, estuda com o irmão num colégio de elite fartamente povoado por brancos. Ela mesmo se faz passar por uma patricinha para que sua cor seja invisível aos olhos dos colegas.
Até que ao sair de uma festa em seu bairro, ela e seu amigo Khalid, são parados numa blitz onde ele é morto por engano, visto que o policial confundiu a escova que ele estava segurando com uma arma. Traumatizada ela quer testemunhar para que o policial seja preso, mas além de todo um aparato social para inocentá-lo, ela ainda é ameaçada pelo traficante do bairro (Anthony Mackie de “Vingadores”).
O diretor George Tillman Jr. de “Rápida Vingança” conseguiu bem mais do que estar do lado certo da história onde questões raciais se enraízam negativamente na sociedade provocando conflitos desnecessários que faz as minorias ficarem ainda mais acuadas.
Ele também mostra que se pode estar do lado certo independente da cor: além do claro posicionamento do negro nesse tipo de questão, o diretor mostra as reações negativas e positivas dos personagens brancos e, se não responde, pelo menos endereça sobre qual o modelo mental que alguém que não sofre preconceito racial (no caso, o branco caucasiano) deve seguir ou no mínimo refletir.
Ainda mais: faz com que o espectador compreenda até mesmo os personagens que com boas intenções, ainda assim não entende o racismo e toma decisões erradas; e também como o contexto social afeta brancos e negros, estes últimos que também podem ser levados a tomarem decisões equivocadas. Os expoentes dessas reflexões na obra são o tio de Starr que é policial e negro (o rapper e ator Common de “Fúria em Alto Mar”) e a sua melhor amiga Hailey (a cantora e atriz adolescente Sabrina Carpenter).
Amandla Stenberg conquista o público com seu sorriso apaixonante e uma atuação carismática que já vem carregando-a para filmes cada vez mais relevantes, enquanto os coadjuvantes também tem participações essenciais para o desenvolvimento da trama e se engajam na história sem parecer clichê. As próprias lições que o pai de Starr (Russell Hornsby de “Creed II”) dá sobre a vida e o verdadeiro significado da expressão “THUG LIFE” é quase um tratado sobre o tema do filme e que até a própria protagonista só vai entender pra valer em seu último ato.
“O Ódio Que Você Semeia” é drama de gente grande que revela todo um ecossistema da nossa sociedade que precisa mudar e qual o nosso lugar nessa mudança, seja de que raça formos.
Curiosidades:
– THUG LIFE é uma expressão cunhada pelo falecido rapper 2Pac Shakur em uma de suas músicas. Muita gente confunde THUG LIFE com “Vida Bandida”, mas na verdade é o acrônimo de “The Hate U Give Little Infants Fucks Everybody”. Traduzindo: O Ódio Que Você Semeia às Crianças Ferra com Todos. É justamente o inverso de uma vida bandida, mas uma lição de amor.
– O ator que interpreta o namorado de Starr foi substituído logo antes das filmagens começarem porque descobriram insultos racistas que ele fez em suas redes sociais. Quem assumiu o papel em definitivo foi K.J. Apa de “Quatro Vidas de Um Cachorro”.
– A trilha sonora muda de tom entre o bairro rico onde Starr estuda e o bairro pobre onde Starr mora.
Ficha Técnica
Elenco:
Amandla Stenberg
Regina Hall
Russell Hornsby
Anthony Mackie
Issa Rae
Common
Algee Smith
Sabrina Carpenter
K.J. Apa
Dominique Fishback
Lamar Johnson
TJ Wright
Megan Lawless
Rhonda Johnson Dents
Tony Vaughn
Direção:
George Tillman Jr.
Produção:
Marty Bowen
Wyck Godfrey
Robert Teitel
George Tillman Jr.
Fotografia:
Mihai Malaimare Jr.
Trilha Sonora:
Dustin O’Halloran
