Ironicamente o filme seria excelente, não fosse a dificuldade de passar a mensagem do desfecho, ou melhor, da reviravolta (a ironia é porque o título começa com “mensageiro”).
Ele mistura dois conceitos de forma interessante: o primeiro o título em português entrega, que é de uma espécie de seita, enquanto o segundo é o título original “The Empty Man” entrega, que é algum tipo de entidade, lembrando aqui filmes como “Candyman” ou “Slender man” e assemelhados.
Baseado na HQ homônima da Boom! Comics – que também o produz – começa com amigos escalando os alpes em algum período da história (o fato de não se falar o quando é uma ótima sacada mais para frente) e depois de um acidente, aparentemente um deles fica possuído por algum tipo de entidade. Corta para atualidade e o ex-policial James (James Badge Dale de “Luta Pela Redenção”) vai ajudar uma amiga, pois sua filha está desaparecida e acaba descobrindo uma seita que pode estar por trás de diversos assassinatos ao longo do tempo, ao mesmo tempo em que entende que há uma criatura rondando a cidade e é chamada a partir de um ritual simples. Claro que ele – naquela decisão inocente e burra – vai fazer o tal ritual e vai ter que correr contra o tempo para salvar a própria vida.
Só pelo fato de um filme de terror como esse durar mais de 2 horas já significa que tem muito conteúdo a mostrar e tanto os sustos quanto às mortes são muito bem feitos, inclusive o desenrolar da trama que aos poucos vai ligando os pontos, mas sempre deixado alguma peça de fora para que o espectador fique cada vez mais intrigado.
O desconhecido diretor David Prior, até então responsável por featurettes e documentários sobre os mais diversos filmes, faz um golaço com o time de câmeras e mostra travelings, ângulos, transições e edições de cenas poucos vistas e inspiradíssimas, as quais ainda cumprem o papel de deixar o público ainda mais tenso, fazendo-se valer da trilha gutural de Christopher Young (“Cemitério Maldito”).
O único problema mesmo foi o final: a reviravolta em si não é tão difícil de entender, mas ela foi executada de uma maneira muito subjetiva, recaindo no lugar comum de revezar entre ilusão e realidade até o ponto de às vezes se perder ou, pior, não conseguir explicitar o fechamento de algumas pontas soltas (por exemplo, o processo de criação que determinada personagem explica, mas não esclarece). Assim, o público talvez saia do cinema (ou do streaming) com uma possível sensação de ter investido muito tempo para não fechar o quebra cabeça completo (ou fechar sem ser satisfatório).
“O Mensageiro do Último Dia” tem ótima premissa, ótima execução, mas toma algumas decisões narrativas questionáveis no último ato. De toda forma quem amou “Hereditário” vai apreciar esse também.
Ficha Técnica
Elenco:
James Badge Dale
Marin Ireland
Sasha Frolova
Aaron Poole
Stephen Root
Samantha Logan
Evan Jonigkeit
Virginia Kull
Robert Aramayo
Ron Canada
Jessica Matten
Jamie-Lee Money
Owen Teague
Joel Courtney
Phoebe Nicholls
Direção:
David Prior
Produção:
Stephen Christy
Ross Richie
Fotografia:
Anastas N. Michos
Trilha Sonora:
Brian Williams
Christopher Young