O maior problema de “O Auto da Compadecida 2” é que veio um excelente filme antes dele.
Para quem não lembra, “O Auto da Compadecida” nasceu em 1999 como uma minissérie da Globo em 5 capítulos que fez um sucesso tão estrondoso – de crítica e público – que seus realizadores, comprimiram esses capítulos e, no ano seguinte, lançaram a história como um filme, que nada mais era do que pedaços muito bem editados da minissérie.
A minissérie – e logicamente o filme derivado – tinha um design de produção sensacional (talvez o famoso Padrão Globo de produção), locações belíssimas, histórias hilárias e um elenco inesquecível.
Salta para 2024 e, como bons filhos do capitalismo, o mesmo diretor Guel Arraes do primeiro e sua turma quiseram fazer uma continuação, sem necessariamente um propósito maior (por favor sem essa de homenagear Ariano Suassuna).
Com um orçamento muito menor aparentemente, descartou-se as locações e filmaram tudo em estúdio, mudando para uma abordagem visual teatral, que de certa forma quebra um pouco a linha lógica do primeiro, mostrando a questão do budget, mas sem desmerecer a escolha.
Quase 70% da história se passa num cenário só (a igreja), tornando a narrativa morosa por mais que a edição seja dinâmica para tentar dar ritmo e a dupla de protagonistas continue com uma ótima química e performance engraçadíssimas.
Selton Mello e Matheus Nachtergaele estão hilários como sempre mostrando toda sua versatilidade, enquanto o destaque dos coadjuvantes vai para o ótimo Eduardo Sterblitch como um empresário picareta. Já Thais Araújo não emplacou tão bem como a Compadecida.
Outro aspecto esquisito do filme é que quase todas as vozes parecem ter sido dubladas ou sobrepostas na pós-produção, dando uma incômoda sensação de que estamos vendo um filme estrangeiro dublado ou até mesmo um desenho do pica-pau.
A história, é boa, tem potencial, mas carece de profundidade como um esquete de “Os Trapalhões”, principalmente na hora em que puxam eventos do primeiro filme, como o fato da Rosinha ter sumido, com uma das mais preguiçosas explicações de roteiro que, inclusive, não casa (desculpe o trocadilho) com o que aconteceu no filme anterior.
Há uma cena em que determinado personagem diz “Já vi esse filme antes”, e é exatamente essa sensação que pode passar pelo público com algumas repetições que talvez tenham sido feitas para trazer nostalgia (ou mais uma preguiça de roteiro), mas apenas mostra mais do mesmo.
Enquanto o primeiro “O Auto da Compadecida” merecia ter todos os 5 episódios exibidos no cinema, esta sua continuação está mais para ser bem degustada via streaming ou na própria Globo. Boa, mas esquecível.
Ficha Técnica:
Elenco:
Selton Mello
Matheus Nachtergaele
Taís Araújo
Luisa Arraes
Virginia Cavendish
Juliano Cazarré
Luellem de Castro
Enrique Diaz
Humberto Martins
Luis Miranda
Fabiula Nascimento
Kauã Rodriguez
Eduardo Sterblitch
Direção:
Guel Arraes
Flávia Lacerda
História e Roteiro:
Guel Arraes
João Falcão
Adriana Falcão
Jorge Furtado
Produção:
Daniel Filho
Pedro Pitta