Nosferatu

Em 1897 o autor Bram Stocker mudou a percepção de mundo ao escrever “Drácula”, colocando os vampiros como ícones culturais.

Em 1922, o diretor F.W. Murnau dirigiu “Nosferatu”, produção alemã de cinema mudo. Apesar de sua importância histórica, “Nosferatu” gerou polêmica devido às suas conexões com o romance de Stoker. Em vez de obter os direitos autorais da obra, os criadores do filme tentaram modificar detalhes para evitar problemas legais. Por exemplo, o nome do personagem principal foi mudado de Conde Drácula para Conde Orlok, e o título do filme não fazia menção direta ao livro.

Houve uma disputa legal significativa após o lançamento de Nosferatu. Florence Balcombe, viúva de Bram Stoker, processou os produtores de Nosferatu, alegando violação de direitos autorais. O tribunal deu razão a ela. Em 1925, foi determinado que todas as cópias do filme deveriam ser destruídas. No entanto, algumas cópias sobreviveram, foram distribuídas clandestinamente e preservadas ao longo do tempo, permitindo que Nosferatu se tornasse um clássico cult e uma peça-chave na história do cinema.

Corta para os anos 80: o diretor Robert Eggers ainda com 9 anos se apaixonou pelo filme desde 1922 até suas outras adaptações, principalmente a de 1979 estrelada por Klaus Kinski. Inclusive na adolescência fez uma adaptação teatral em sua escola.

Já em 2024 e depois de seus filmes aclamados “A Bruxa”, “O Farol” e “O Homem do Norte”, Eggers nos entrega uma versão épica e teatral – daquele jeito que ele faz – de “Nosferatu”.

Nicholas Hoult, que saiu há pouco de um filme de vampiro “Renfield – Dando o Sangue Pelo Meu Chefe” é Thomas Hutter, que sai numa aventura nos alpes da Transilvânia para fazer uma transação imobiliária com o misterioso Conde Orlok (Bill Skarsgård de “O Corvo”, numa de suas melhores caracterizações), deixando a esposa Ellen (Lily-Rose Depp de “Yoga Hosers”) desprotegida, sem saber que ela e Orlok (conhecido também como Nosferatu) tem uma conexão espiritual, e que o vilão fará de tudo para tê-la somente para si, nem que para isso tenha que matar a todos pelo caminho.

Começando pelo cenário e fotografia, toda a caracterização está impressionante, na parceria entre Eggers e seu diretor de fotografia Jarin Blaschke, também responsável pelos seus últimos filmes. A reconstituição e figurino merecem indicações a prêmios. O visual, algumas vezes beirando o preto e branco, a iluminação, tendendo ao mais puro terror engole o coração do espectador.

A parte teatral é muito bem explorada pelo elenco que propositalmente cita seus diálogos com maneirismos de uma peça de teatro, tornando a narrativa peculiar, que pode dividir opiniões. Eggers fez questão de deixar o elenco livre para improvisar seus próprios movimentos o que resulta em algumas das cenas perturbadoras das crises de Ellen onde a atriz faz movimentos bruscos e caras e bocas sem quase nenhuma maquiagem ou efeito especial.

Chegamos ao Conde Orlok que talvez seja a maquiagem mais bem feita e correspondente à época de Nosferatu até o momento, tornando o personagem muito mais ameaçador do que simplesmente por ser um vampiro, até porque o conceito de vampiro na época é muito discutido, inclusive pelo Professor Albin, personagem de Willem Dafoe (“Saturday Night”), passa o filme se debruçando sobre a questão vampiresca. Sua voz gutural e cadência, misturado com seu visual que o diretor faz questão de revelar muito gradativamente para expor completamente só no desfecho, na talvez melhor cena do filme.

Como a adaptação foi fiel a obra de 1922 que por sua vez tem conexões diretas com Drácula, alguns aspectos da história ficam um tanto frágeis: não se sabe como se criou a conexão entre Nosferatu e Ellen, tampouco como o Sr. Knock (Simon McBurney de “O Pálido Olho Azul”) vira o lacaio de Orlok à distância, dois pedaços da narrativa que, em tese, seriam essenciais para a compreensão de todo o desenvolvimento da trama.

Deixando isso de lado, “Nosferatu” vira uma espécie de terror romântico – tal qual Drácula – com um belo arco narrativo, visuais impressionantes, violência e sangue na pedida certa e uma direção que prende o espectador na cadeira.

Curiosidades:

  • Bill Skarsgård presenteou Nicholas Hoult com a prótese peniana que teve que usar para o filme.
  • No início do filme aparece a legenda “Alemanha – 1838”, porém nesse ano ainda não existia a Alemanha como país. A cidade de Wisberg é ficcional, inspirada na cidade de Wismar pertencente na época ao Ducado de Mecklenburg.
  • O maior erro do filme ao copiar Drácula foi a viagem de navio, pois sair da Transilvânica para Alemanha de navio não faz o menor sentido, já que não há nenhum mar entre os dois países, somente podendo-se ir por terra, como fez Thomas Hutter.
  • O castelo onde o filme foi feito é o mesmo usado na adaptação de “Nosferatu” de 1979.
  • As cenas em que a sombra de Orlok caminha pela casa é uma homenagem direta ao clássico de 1922.
  • A palavra “Nosferatu” é mencionada no romance Drácula de Bram Stoker, mas não é usada como o nome do vampiro. Em vez disso, aparece como um termo genérico associado aos vampiros. Stoker inclui o termo no contexto das tradições e superstições relacionadas a essas criaturas, sugerindo que “Nosferatu” era uma palavra de origem romena para descrever um vampiro. Stoker provavelmente encontrou a palavra em textos de escritores como Emily Gerard, que escreveu sobre superstições da Transilvânia no ensaio Transylvanian Superstitions (1885). Este texto influenciou a pesquisa de Stoker para Drácula.
  • Orlok deriva do alemão arcaico orlog que significa guerra.
  • Uma das grandes diferenças de Orlok para os vampiros que conhecemos é que todos os seus dentes são pontiagudos, com os incisivos um pouco mais pronunciados. Por isso quando o filme mostra a marca de mordida, aparecem vários dentes na pele e não apenas dois.
  • A cena dos personagens com os ratos foi feita com 2 mil ratos de verdade.

Ficha Técnica:

Elenco:
Lily-Rose Depp
Nicholas Hoult
Bill Skarsgård
Aaron Taylor-Johnson
Willem Dafoe
Emma Corrin
Ralph Ineson
Simon McBurney

Direção:
Robert Eggers

História e Roteiro:
Robert Eggers

Produção:
Chris Columbus
Eleanor Columbus
Robert Eggers
John Graham
Jeff Robinov

Fotografia:
Jarin Blaschke

Trilha Sonora:
Robin Carolan

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