Nunca gostei daquela expressão “Se não gostou do filme é porque não entendeu”. Acho ela equivocada em vários níveis, inclusive pelo fato de que o não entendimento faz parte da experiência como um todo.
Dito isso, eu relutantemente tenho que, pela primeira vez numa resenha, chegar perto dessa frase, colocando que ao entender o que realmente acontece nessa história de terror, a percepção do espectador pode mudar completamente. Pior: preciso dizer que a explicação está lá, acima de um nível subliminar, mas nunca óbvia, como talvez tenha sido a intenção do diretor Alexandre Aja de “Predadores Assassinos”.
O segredo está desvendado na nossa parte de spoilers em curiosidades lá embaixo, mas por hora, vamos nos ater à sinopse: Halle Berry de “Moonfall – Ameaça Lunar” é a mãe de dois garotinhos e todos estão numa cabana isolada no meio da floresta. Segundo ela houve uma espécie de apocalipse demoníaco, isto é, o mundo acabou porque todos foram possuídos no planeta, mas a família dela conseguiu se refugiar nessa casa que foi construída especialmente para espantar os espíritos ruins.
Para eles sobreviverem, precisam sair à caça de animais e plantas e só podem fazer isso com imensas cordas ligadas à casa que, mais uma vez segundo ela, protegem a todos os três de que o demônio (ou sei lá o que) se aposse do corpo deles e daí mate quem sobrou.
O problema é que só ela consegue ver esses demônios e com o tempo seus filhos começam a desconfiar que ela pode estar mentindo ou até mesmo estar louca, principalmente junto do fato do inverno rigoroso forçarem os personagens a irem cada vez mais longe. Aí começam os conflitos e os problemas que poderão ser fatais.
O roteiro é dividido em 3 atos nominados como capítulos de um livro e que, até aí, serve estritamente para divisão narrativa sem grandes consequências, pois a grande pergunta da trama é se o mal existe ou é coisa da cabeça da protagonista.
O diretor faz um terror mais comedido, sem grandes sustos e com efeitos especiais discretos, mas eficazes, pois aposta na dinâmica entre os três personagens, inclusive no fato de que as crianças interpretadas pelos ótimos Anthony B. Jenkins e Percy Daggs IV não são poupadas emocionalmente, em especial na virada para o último ato quando há a primeira grande reviravolta, a qual vai se revelar o primeiro passo para a explicação (que na hora ninguém vai notar).
O que talvez faça o espectador torcer um pouco o nariz é que, além da explicação não ser explícita – tem que mastigar um pouco para entender – o clímax tem mais impacto emocional do que visual, o que é coerente com a abordagem de Alexandre Aja desde o início.
Ainda assim, “Não Solte!” é um filme acima da média e foge dos padrões de terror por unir emoção e conteúdo com um desfecho nada previsível, mas que talvez não acerte em todos os gostos. Acertou no meu.
Curiosidades:
***SPOILERS – SÓ LEIA SE JÁ VIU AO FILME***
O que realmente acontece: Não houve apocalipse e o espírito do mal estava dentro da protagonista o tempo todo. Percebam a tatuagem de cobra nas costas da mãe e como a entidade (pode-se ver claramente no final) tem um visual reptiliano, sendo que inclusive ela surge descamando-se do corpo da mãe que já aparece como espírito. Talvez muita gente não note, mas essa é a cena chave para se entender toda a história.
Na verdade, a casa e a corda só protegiam a própria personagem de ter um surto de possessão e matar seus filhos (coisa que aconteceu antes com o marido e os sogros, segundo é dito em determinada cena). Ou seja, a casa e a corda tinham efeito zero nas crianças e por isso elas nunca viam nada e passaram a duvidar da mãe. Lembrando que não há explicação da mecânica de como a casa e a corda faziam essa proteção. É algo que temos que ter como fato.
No fim do segundo ato quando a corda da mãe é cortada, para não ter um surto possessivo ela se mata. É aí que o espírito escapa de seu corpo, vai para a floresta e, somente aí que ele passa a assombrar as crianças recém órfãs, acabando por possuir o filho mais velho.
Para quem achava que a mãe era louca e depois o filho, basta ver a foto que aparece no finalzinho e pronto.
Ficha Técnica:
Elenco:
Halle Berry
Percy Daggs IV
Anthony B. Jenkins
Direção:
Alexandre Aja
História e Roteiro:
KC Coughlin
Ryan Grassby
Produção:
Alexandre Aja
Dan Cohen
Dan Levine
Shawn Levy
Fotografia:
Maxime Alexandre
Trilha Sonora:
Robin Coudert