“Não Fale o Mal” é Hollywood fazendo bem o que adora fazer: um remake “americanizado” de um excelente filme estrangeiro (aos EUA). A bola da vez é o sensacional terror dinamarquês do mesmo nome feito há apenas 2 anos (em 2022).
A trama é basicamente a mesma: dois casais, cada um com um filho, se conhecem em férias na Itália. Um convida o outro para passar o fim de semana em sua chácara. Os convidados mal sabem os malignos planos que o casal da chácara tem para eles.
Aqui temos James McAvoy meio que repetindo seu papel de psicopata de “Fragmentado” e Aisling Franciosi (“Drácula – A Última Viagem do Demeter”) como o casal sinistro Paddy e Ciara, enquanto o casal, digamos inocente, é representado por Scoot McNairy (“O Peso do Passado”) como o emasculado Ben, e Mackenzie Davis (“Alguém Avisa?”) como Louise, quase o homem da relação.
Como todo remake americano, a produção dirigida por James Watkins (“A Mulher de Preto”) usa aqueles clichês batidos do gênero que adoramos odiar que, apesar de previsíveis, até que funcionam, no sentido que, mesmo incomodado com alguns momentos da narrativa, ela é crível, isto é, é possível acreditar que o conjunto de situações que se constrói leva os personagens ao clímax mostrado.
A covardia é querer comparar este com o original, que é pura tensão e terror. O remake, como era de se esperar, suaviza bastante as coisas, procura dar explicação para tudo, meio que como babá do espectador (por outro lado responde questões que o original não se preocupa em esclarecer) e tenta engrenar numa ação no terceiro ato que nem existe no original.
Aliás, essa pasteurização da trama atinge seu ápice justamente no terceiro ato, pois se desvia totalmente do rumo que a produção dinamarquesa toma, inclusive – e principalmente – em seu desfecho. Ao mesmo tempo em que o terceiro ato praticamente tira todo o terror do original, por outro lado, ele também traz uma nova narrativa para que o espectador que já viu a produção dinamarquesa veja algo diferente (o que não quer dizer melhor).
A primeira das duas maiores críticas está nos personagens que parecem muito estereotipados: o Paddy de McAvoy parece ser um psicopata desde o momento em que aparece em cena; o Ben de McNairy às vezes irrita pela sua passividade. Tanto que arranjaram até uma subtrama para a crise em seu casamento; e Louise sempre toma a frente da situação no clichê de mulher empoderada. Ainda assim, são as mulheres que trazem as melhores interpretações, principalmente a discreta Aisling Franciosi.
A segunda é mais uma questão de comparação com o original, pois um elemento chave para a tensão era que cada casal falava uma língua diferente, holandês e dinamarquês, apenas convergindo para o inglês quando falavam entre si, e isso funcionava para que o espectador não entendesse quando os vilões se comunicavam, potencializando ainda mais a tensão.
“Não Fale o Mal” funciona muito bem sozinho, tem um bom desenvolvimento, mas inferior ao filme europeu de 2022, apresenta uma nova proposta que nem sempre é passível de comparação.
Curiosidades:
- James McAvoy foi o único que não assistiu o original dinamarquês para que não influenciasse na sua maneira de interpretar o papel.
- Faltando 5 dias para o término das filmagens, elas foram suspensas pela greve dos roteiristas e artistas de Hollywood, sendo retomadas 4 meses depois.
***SPOILLERS – SÓ VEJA APÓS ASSISTIR AO FILME E AO ORIGINAL DINAMARQUÊS***
- O original tem um final completamente diferente: tanto o menino quanto o casal inocente morrem brutalmente e a menina tem sua língua cortada. No desfecho o casal assassino vai com a “nova filha” para a Itália novamente atrás de mais de um casal incauto.
- No original só se descobre o esquema do casal assassino bem no final. No remake, desde a metade o “filho” do casal assassino tenta avisar aos inocentes da armadilha e eventualmente consegue, que é a virada para o terceiro ato.
- O maior comparsa no casal no original é o cara que toma conta das crianças quando eles saem, enquanto no remake o maior comparsa do casal é o dono do restaurante.
Ficha Técnica:
Elenco:
James McAvoy
Mackenzie Davis
Scoot McNairy
Aisling Franciosi
Alix West Lefler
Dan Hough
Kris Hitchen
Motaz Malhees
Direção:
James Watkins
História e Roteiro:
James Watkins
Produção:
Jason Blum
Fotografia:
Tim Maurice-Jones
Trilha Sonora:
Danny Bensi
Saunder Jurriaans