Se existe algo que se faz no Brasil há mais de 30 anos são dramas urbanos. Com tanta experiência nas costas, ainda sim, a enorme maioria são de qualidade duvidosa. E do resto, pouquíssimos tem os predicados deste longa coreano. Mas é só passar pela inigualável experiência de vê-lo que fica fácil descobrir o porquê.
Do-jun é um jovem que sofre de algum tipo de retardo mental e por conta de seu temperamento, de vez em quando se vê às voltas com pequenos delitos e acaba parando na delegacia. Sua mãe sempre o defende de tudo e de todos e mesmo sendo muitas vezes desprezada pelo filho, sempre está lá pra ajudá-lo e o trata como um bebê. Quando ele é preso suspeito da morte de uma adolescente, ela faz de tudo para provar sua inocência.
O diretor Bong Joon-ho (“O Hospedeiro“) prova que belíssimas tomadas com fotografia impecável também podem ser feitas no meio da cidade e em improváveis locações. Algumas cenas são desde já antológicas, como a da água chegando nos dedos de um suspeito adormecido enquanto a mãe tenta sair do quarto sem acordá-lo ou a do interrogatório brutal promovido por um amigo ou quando mostra a devoção da mãe quando dá de comer ao filho enquanto ele, relapso, urina no muro de uma rua.
Mas a história é tão atraente que a fusão com a técnica gera um resultado excepcional. Mantendo um tom de razoável humor no início da narrativa e aos poucos se tornando vez mais sério e denso, acompanhamos o aterrador motivo da devoção da mãe, a repulsa das pessoas a Do-Jun, a história da agulha de acupuntura que soa quase como uma ameaça nas mãos da genitora, a descoberta da verdade e a surpreendente reação a essa descoberta. Ainda fecha com chave de ouro quando desembrulha mais um dos segredos citados e consegue amarrar a trama inteira. A própria cena em que os policiais dizem há muito tempo não terem um caso de assassinato na cidade mostra a falta de aptidão de lidar com um caso que numa cidade grande, talvez fosse resolvido com muito mais eficácia (e isso dá o mote de tudo o que se segue).
Como se não bastasse, a atuação da dupla de protagonistas Kim Hye-Já (a mãe) e Won Bin (o filho) é impecável. “Mother” tem tudo pra ser um clássico instantâneo e prova que não é só de terror que vive o cinema oriental. E mais: mostra que o Brasil ainda tem muito o que aprender. Perfeito.
[rating:5]
Ficha Técnica
Elenco:
Kim Hye-Ja
Won Bin
Jin Goo
Yoon Jae-moon
Jun Mi-sun
Song Sae-beauk
Lee Young-suck
Moon Hee-ra
Chun Woo-hee
Kim Byeong-seon
Yu Mou-young
Direção:
Bong Joon-ho
Produção:
Park Tae-joon
Seo Woo-sik
Fotografia:
Hong Kyung-Pyo
Trilha Sonora:
Lee Byeong-Woo