O cânone do cinema nacional sempre passa pelo drama urbano paulista, carioca e nordestino. Nesse bingo, o cineasta Karim Aïnouz já passou pelo Rio de Janeiro com o excelente “A Vida Invisível” e agora adentra no Nordeste com a história de Heraldo (Iago Xavier) um bandidinho que por um erro deixa seu irmão morrer no que deveria ser uma emboscada para um empresário e, para não sofrer uma retaliação da quadrilha, esconde-se num motel de beira de estrada, o tal Motel Destino.
Lá é acolhido pelo dono Elias (Fábio Assunção de “Meu Nome é Gal”) e sua esposa Dayana (Nataly Rocha). Como há uma relação tóxica entre o casal, começa a surgir um triângulo amoroso que pode se revelar tão fatal quanto a vingança da ex-quadrilha de Heraldo.
O primeiro ato começa devagar, tentando criar a conexão entre o espectador e os personagens que compõe a primeira ameaça que é a quadrilha, mas só engata no segundo ato quando o cenário passa a ser o motel.
Os pilares propulsores da trama são três: o primeiro é a dinâmica do próprio motel e seu território, funcionando como um roteirista geográfico para que os personagens estabeleçam uma dinâmica emocional, sendo que não deixa de ser satisfatório o conhecimento intrínseco dos bastidores do que acontece num estabelecimento do gênero.
O segundo é que o diretor faz um retorno ao passado do cinema nacional e traz de volta a chanchada, mas de forma inteligente, combinando o momento com a história e com uma nudez natural e sem filtro, tal qual era feito. Nesse quesito, Nataly Rocha se apresenta como uma mulher normal dando um show de sensualidade sem forçar a barra.
O terceiro pilar é o brilhante Fábio Assunção: ele eleva o patamar de atuação do conjunto e veste o personagem sem pensar duas vezes. Mais que isso, dá credibilidade que aquele homem pode existir e, se existe, é exatamente desse jeito.
O que ele consegue, junto com o elenco e diretor é que não haja mocinhos ou vilões definitivos: todos estão lá tentando sobreviver, independente de seus atos e sem julgamento de valores. Até mesmo a dona da quadrilha que faz uma revelação pequena mas interessante no final, tem uma complexidade que ultrapassa a barreira de vilões e mocinhos.
Destaque para a direção de fotografia da francesa Hélène Louvart que, tal qual em “A Vida Invisível”, também apostou em cores fortes como o vermelho (de motel, do sexo), o amarelo (das praias e lembranças) e azul púrpura (da violência) para dar o tom da narrativa a cada momento.
“Motel Destino” é um suspense dramático de triângulo amoroso numa linguagem inteligente com a brasilidade padrão do cinema nacional e com Fábio Assunção como trunfo.
Ficha Técnica:
Elenco:
Fábio Assunção
Nataly Rocha
Iago Xavier
Direção:
Karim Aïnouz
História e Roteiro:
Wislan Esmeraldo
Karim Aïnouz
Mauricio Zacharias
Produção:
Janaina Bernardes
Didar Domehri
Caio Gullane
Fabiano Gullane
André Novis
Gabrielle Tana
Hélène Théodoly
Fotografia:
Hélène Louvart
Trilha Sonora:
Amin Bouhafa
Benedikt Schiefer