Memórias de um Caracol (“Memoir of a Snail”)

Quem acha que animações são necessariamente para crianças ou para a família toda, não conhece as obras do australiano Adam Elliot que em 2009 lançou seu belíssimo “Mary e Max”. Agora ele volta com uma narrativa bastante atual que perpassa alguns dos grandes males da sociedade.

Grace é uma colecionadora de caracóis que inicia o filme após a perda de uma grande amiga, contando seu passado de como seu pai era alcóolatra e faleceu deixando-a e seu irmão para serem separados por décadas enquanto ela crescia enfrentando todo tipo de desventura e encontrando conforto apenas em seus caracóis.

Elliot faz animação stop motion raíz com pouquíssimo orçamento, mas traz grandes nomes na narração como Sarah Snook, Eric Bana e Jacki Weaver.

Sua abordagem visual beira o grotesco e não seria incomum se alguém confundisse o estilo com o de Tim Burton, de tão soturno e caricato, sendo de uma brutalidade e feiura que tem o dom de muitas vezes passar verdadeiros sentimentos ao espectador.

O diretor e roteirista explora os mais peculiares e politicamente incorretos temas como fetiches de obesidade, swing entre casais, lavagem cerebral pela religião, alcoolismo, mas principalmente o amor fraterno e a finitude da vida, nas principais conexões de Grace, seja com seu irmão Gilbert, seja com sua amiga bem mais velha, Pinky.

A reviravolta no final não seixa de ser emocionante, mas a história, mesmo com todos os absurdos, conserva em seu arco emocional, os pés no chão.

O piano da desconhecida compositora Elena Kats-Chernin talvez seja uma das coisas mais lindas que o público deve escutar nos últimos tempos e ao mesmo tempo é cru e maravilhosamente trabalhado.

Memórias de um Caracol” tem aquele tipo de peculiaridade que vai tocar especialmente quem consegue ver por trás da beleza ou da falta dela. Recomendadíssimo.

Curiosidades:

  • O diretor Adam Elliot faz a maioria das vozes dos personagens figurantes.
  • O filme tem muita narração em off e poucos diálogos porque os diálogos requerem muito mais tempo e dinheiro para fazer a movimentação da boca dos bonecos.
  • O diretor ganhou notoriedade em 2003 com o curta-metragem “Harvey Krumpet”. O personagem que dá nome ao filme, faz uma participação especial na cena de uma banheira com várias pessoas.
  • A animação da água foi feita com lubrificante.
  • A personagem homofóbica Ruth é dublada por Magda Szubanski, uma conhecida ativista australiana dos direitos LGBT.

Técnica:

Elenco:
Jacki Weaver
Sarah Snook
Nick Cave
Kodi Smit-McPhee
Eric Bana
Charlotte Belsey
Agnes Davison
Mason Litsos
Saxon Wright
Dominique Pinon
Selena Brennan
Adam Elliot
Paul Capsis
Dan Doherty
Magda Szubanski
Bernie Clifford

Direção:
Adam Elliot

História e Roteiro:
Adam Elliot

Produção:
Adam Elliot
Liz Kearney

Fotografia:
Gerald Thompson

Trilha Sonora:
Elena Kats-Chernin

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Uma resposta

  1. O filme é de uma profundidade emocional gigantesca. A animação, aborda temas delicados e reais, totalmente destinado a adultos, nos faz refletir a vida.

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