Antes de tudo, inclusive da própria história, “Maudie” é um show de interpretação. Talvez sejam as melhores interpretações de Sally Hawkins (“Spencer”) e Ethan Hawke (“O Homem do Norte”). E ainda por cima é baseado em emocionantes fatos reais.
Hawkins retrata, ou melhor, incorpora a pintora amadora Maudie Lewis que morou na província canadense de Nova Escócia na década de 30 e nasceu com uma condição genética de artrite progressiva que acaba limitando seus movimentos ao longo da vida.
Ignorada pela família e com um dolorido drama pessoal, ela sai de casa e passa a morar com Everett (Hawke) que inicialmente a contrata como empregada, mas aos poucos desenvolvem uma peculiar relação de amizade e amor. A peculiaridade é porque Everett possui um espectro de autismo que o faz ser antissocial e muitas vezes violento.
Maudie descobre na pintura seu passatempo favorito e acaba por ser reconhecida nacionalmente, sem nunca sair de seu jeito bucólico de viver.
A diretora Aisling Walsh de “A Corrente do Mal” apenas precisou pegar o trabalhadíssimo roteiro de Sherry White e mandar bala na execução com a dupla de protagonistas encantando numa das raras demonstrações de uma mistura de química e dinâmica perfeitas com o talento individual de cada um.
Ao ver o vídeo do verdadeiro casal nos créditos finais, tem-se uma idéia de como Hawkins se transformou em Maudie de forma quase assustadora. E mesmo que haja grandes diferenças físicas entre o verdadeiro Everett e Ethan Hawke, o ator abraçou o papel com garra e foi consistente o tempo inteiro.
Como não bastasse, tudo conspira a favor, desde o design de produção, passando pela construção de uma casa idêntica à original, uma fotografia com ótimos momentos e a trilha sonora emocionante do desconhecido Michael Timmins que deve arrancar algumas lágrimas do público, principalmente no último ato.
O ponto alto filosófico é o debate de quanto o ser humano precisa para ser feliz e o que é a felicidade senão um conjunto de momentos de realização e contemplação.
“Maudie” parece ter todas as respostas e as apresenta com seu modo de ver peculiar, uma direção segura e uma performance artística fantástica de Hawkins e Hawke, transformando cada cena eu uma aula e em puro deleite.
Curiosidades:
- Após cada dia de filmagem, Sally Hawkins precisava fazer aula de yoga e alongamento para sair do personagem.
- Esse projeto esteve em desenvolvimento por 13 anos.
- O verdadeiro Everett havia contratado Maudie como empregada e uma das funções era garantir a segurança da casa. Ironicamente Everett morreu em 1979 vítima de um assalto na casa dele, 9 anos depois do falecimento de Maudie.
- Ethan Hawke aceitou o papel antes de ler o script.
Ficha Técnica:
Elenco:
Sally Hawkins
Ethan Hawke
Zachary Bennett
Gabrielle Rose
Lawrence Barry
Greg Malone
Billy MacLellan
Kari Matchett
Marthe Bernard
David Feehan
Direção:
Aisling Walsh
Produção:
Bob Cooper
Susan Mullen
Mary Sexton
Mary Young Leckie
Roteiro:
Sherry White
Fotografia:
Guy Godfree
Trilha Sonora:
Michael Timmins