Com Maria Callas, o cineasta Pablo Larraín finaliza sua trilogia das cinebiografias de mulheres famosas (ele batizou a trilogia de “Lady with Heels“), que começou com “Jackie” em 2016 sobre Jaqueline Kennedy, esposa do ex-Presidente assassinado John F. Kennedy; sendo seguido de “Spencer” em 2021 sobre a Princesa Diana.
Os três filmes têm alguns aspectos bem relevantes em comum: primeiro que se passam num curto período de tempo, de mais ou menos uma semana. “Jackie” se passa logo após a morte de JFK, “Spencer” se passa na semana que antecedeu a separação de Diana, e “Maria” se passa na semana que antecedeu sua morte.
Todas as produções têm somente alguns flashbacks para contextualizar a situação atual, mas longe de abranger de verdade a vida de cada personagem. As histórias têm sempre com ponto de vista o da protagonista e, portanto, tudo só acontece até aonde elas presenciam ou lembra.
Finalmente, o ponto crucial é que, ao fim e ao cabo, os três filmes são bons, mas longe de deixar alguma marca, e isso se deve muito às escolhas narrativas de Larrain.
Angelina Jolie, que cultiva hiatos entre suas aparições no cinema, sendo sua mais recente no filme da Marvel “Eternos”, interpreta Maria Callas, uma das maiores cantoras de ópera que o mundo já viu, mas que no fim de sua carreira, derrubada pelas drogas e depressão, já não se apresentava mais, vindo a falecer devido a sua fraca saúde em 1975.
Jolie faz sua Callas uma etérea blasé que dá charme à sua performance, mas é potencializada pela maneira como o diretor expõe sua visão: muitas vezes entorpecida pelas drogas ela tinha sintomas esquizofrênicos, vendo pessoas que não estavam lá.
A sacada narrativa é que ela vê um repórter (Kodi Smit-McPhee de “Elvis”), o qual pede para ela contar sua história. Então o tanto (ou pouco) que sabemos do seu passado – sempre em preto e branco nos flashbacks – vem dessa troca com o jornalista que não existe, mas que desempenha um papel fundamental na jornada emocional de uma semana de Callas.
A atração a parte é o casal de mordomos Ferruccio e Bruna, interpretados respectivamente por Pierfrancesco Favino de “Minha Prima Raquel” e Alba Rohrwacher de “A Filha Perdida”. Eles funcionam como o alter ego do espectador e em alguns momentos emocionam mais que a própria Callas.
Mesmo se debruçando em vários artifícios narrativos, como dividir a história em capítulos, mudar cores entre flashback e momento “atual”, entre outros, Larrain ainda se perde em contemplação reduzindo o ritmo e jogando a responsabilidade de preencher essa lacuna de timing para a protagonista, a qual faz o que pode, mas não faz milagre.
“Maria” cumpre a cota do cenário artístico de lançamentos para indicações a prêmios, mas, de verdade, entrega apenas o suficiente para a vista dos cinéfilos curiosos.
Curiosidades:
- Angelina Jolie recusou dublar e fez 7 meses de aula de canto para encarar o papel. Mas não teve jeito: a maioria das cenas foi feira com o som original de Callas. Somente o canto final que Jolie tem uma participação maior.
- Angelina Jolie foi a única escolha do diretor. Se ela tivesse se recusado, o filme não seria feito.
- Há um link histórico entre este filme e “Jackie”: Aristotle Onassi, que fora marido de Callas durante muito tempo, depois da separação se casou com Jaqueline Kennedy, após a morte de JFK. Boatos diziam que os dois já tinham um affair quando ambos eram casados.
- Haluk Bilginer (“Halloween”), que interpreta Aristotle Onassi, nasceu na mesma cidade que o personagem, a histórica Esmirna, na Turquia.
- Pierfrancesco Favino e Alba Rohrwacher, que interpretam os mordomos, já interpretaram um casal no filme “O Que Mais Posso Querer” de 2010.
Ficha Técnica:
Elenco:
Angelina Jolie
Pierfrancesco Favino
Alba Rohrwacher
Haluk Bilginer
Kodi Smit-McPhee
Stephen Ashfield
Valeria Golino
Caspar Phillipson
Lydia Koniordou
Direção:
Pablo Larraín
História e Roteiro:
Steven Knight
Produção:
Maren Ade
Jonas Dornbach
Simone Gattoni
Janine Jackowski
Juan de Dios Larraín
Pablo Larraín
Lorenzo Mieli
Fotografia:
Edward Lachman