Love

Não é todo filme normal que começa com uma cena de sexo explícito. O cineasta Gaspar Noé também não é tão normal. Na verdade, foi praticamente um elogio, pois ele tem duas marcas: trabalha estilos de linguagem bastante peculiares e sempre tem a narrativa permeada por sexo, vide um de seus melhores trabalhos “Irreversível” de 2002. Só que pela primeira vez ele trabalha com sexo explícito.

Filmado inteiramente em Paris e com um elenco iniciante (só podia), conhecemos Murphy, um jovem estudante de cinema que perdeu o amor de sua vida, Electra, quando engravidou Omi vizinha do casal. Mas a história começa anos depois quando Murphy, casado e com um filho e constantemente arruinado pela culpa, recebe uma ligação da mãe de Electra dizendo que ela desapareceu. Enquanto ele tenta ligar para seus antigos amigos procurando o paradeiro dela, o filme remonta fora da cronologia óbvia, a história deles sempre com conotação sexual e como Murphy conseguiu destruir tudo.

A produção pode ser analisada por dois aspectos: o primeiro quando não há conteúdo sexual. Noé usa uma linguagem que mistura o pensamento do protagonista numa narração em off a os diálogos reais misturados, fazendo o espectador em alguns momentos ter dificuldade para diferenciá-los resultando em algumas cenas brilhantes na que ele xinga a esposa na frente do filho pequeno e apenas segundos depois constatamos que era apenas o pensamento dele. Também faz um bom uso de pequenos e constantes pausas ou cortes que podem delimitar mudança do período da narrativa ou até mesmo na mesma cena como uma leve mudança da tensão entre os personagens ou avançando para uma consequência.

O outro aspecto é o sexual. A pergunta que fica é: eram necessárias as cenas de sexo explícito? A resposta talvez seja um sim, partindo do princípio que toda cena conta uma história. Só que daí vamos a uma segunda pergunta: eram necessárias tantas cenas de sexo explícito? Já essa resposta pode ser um definitivo não, uma vez que as cenas não só precisam contar a história, mas agregar nela. E fica evidente que algumas cenas simplesmente estão lá pra chocar. Tanto é que o filme foi feito em 3D e surgem cenas bastante esquisitas apenas para mostrar o “poder” do formato como uma masturbação onde o esperma de Murphy pula da tela, que não serve para nada dentro do contexto. E a própria repetição das cenas do casal levadas à exaustão num momento em que a tecnologia banalizou o sexo e é possível encontrar muito mais e com maior diversidade em qualquer site especializado.

Aliás, o maior problema da execução é que o diretor parece ter se inebriado tanto com sua genialidade e polêmica que levou todas as linguagens a um ponto cansativo que ultrapassa as duas horas de projeção. E mesmo com alguns ótimos momentos e um desfecho que usa uma metalinguagem de forma irrepreensível, “Love” se desgasta como a relação de seus personagens. Infelizmente o desgaste do filme chega primeiro. Mas não deixa de ser um bom exercício para cinéfilos.

Curiosidades:
– O nome do protagonista Murphy tem duas origens: a mãe de Gaspar Noé que se chama Nora Murphy e a Lei de Murphy, visto que seu personagem faz com que tudo dê errado em sua vida.

– O nome Gaspar Noé é usado duas vezes no filme: Gaspar é o nome do filho de Murphy, enquanto Noé é o nome do ex namorado de Electra, curador de uma galeria, interpretado por ninguém menos que o próprio Gaspar Noé.

– Gaspar Noé conhecer Aomi Muyock e Klara Kristin numa festa e as convidou para a audição do filme. O único ator de verdade era Karl Glusman.

Ficha Técnica

Elenco:
Aomi Muyock
Karl Glusman
Klara Kristin
Ugo Fox
Juan Saavedra
Gaspar Noé

Direção:
Gaspar Noé

Produção:
Brahim Chioua
Vincent Maraval
Gaspar Noé
Rodrigo Teixeira
Edouard Weil

Fotografia:
Benoît Debie

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