Se o clássico dos irmãos Coen, “Fargo”, fosse dirigido por William Friedkin que nos deu o fenômeno “O Exorcista” e mais recentemente o perturbador “Possuídos”, o resultado seria exatamente “Killer Joe”.
Sendo uma espécie de dramédia de humor negro, povoado de personagens surreais, tudo começa numa cidadezinha do Texas quando o pobretão Chris (Emile Hirsch de “A Vida em Motéis”) tem a “brilhante” idéia de matar a própria mãe para ficar com o dinheiro do seguro e, junto com seu pai Ansel (Thomas Haden Church de “Pai em Dose Dupla”), contrata um matador de aluguel, o perverso Killer Joe (Matthew McConaughey de “Interestelar”). Como eles não tem o dinheiro que o matador quer adiantado, ele toma como garantia a irmã de Chris, Dottie (Juno Temple de “As Delícias da Tarde”). E por tomar como garantia, entendam como quiserem. Fato é que tudo dá errado.
O filme chega quase a ser minimalista, pois se passa em poucos espaços e chega no auge do terceiro ato inteiro praticamente se passar todo num trailer. Então ele se escora no carisma do elenco – o que eles têm de sobra – e na tensão que essa química provoca em cada um. Se McConaughey está afiadíssimo como um assassino sem escrúpulos mas com coração e princípios que só sua mente doentia pode ter, Thomas Haden Church está hilário como um bonachão que tem consciência da própria mediocridade, enquanto Emile Hirsch é um filho que puxou totalmente ao pai, mas não se dá conta de que é um imbecil. Já Juno Temple é uma atração à parte como a ninfetinha sociopata da família.
A direção não é menos sagaz e nos presenteia com uma série de cenas, no mínimo viajantes, como a infame chupada da coxa de galinha chegando ao clímax com um diálogo sensacional, tal como a construção de um crescente atrito entre os personagens que fica difícil dizer quem vai ficar contra quem, mas que passa a certeza de que algo não vai acabar bem.
Eis que chegamos no desfecho e muita gente vai torcer o nariz, pelo qual súbito o filme acaba, como se praticamente tivesse sido cortado ali. Mas até nisso o diretor foi esperto, pois dá ao filme o mesmo tom satírico da peça de teatro (sim, originalmente é uma peça de teatro) escrita por Tracy Letts, a qual também escreveu “Possuídos” como livro e filme.
“Killer Joe” não é para todos, mas tem um talento inegável para um tragicômico surreal e originalíssimo em sua proposta.
Ficha Técnica
Elenco:
Matthew McConaughey
Emile Hirsch
Juno Temple
Thomas Haden Church
Gina Gershon
Marc Macaulay
Gralen Bryant Banks
Carol Sutton
Danny Epper
Jeff Galpin
Scott A. Martin
Direção:
William Friedkin
Produção:
Nicolas Chartier
Fotografia:
Caleb Deschanel
Trilha Sonora:
Tyler Bates