O documentário mais idiota deste ano foi feito pelo mesmo Matt Walsh que ano passado faz o interessante “O Que é uma Mulher?”, mas aparentemente a arrogância subiu à sua cabeça para que produzisse algo de um mal gosto absurdo. Pelo menos dá para a gente falar um pouco da natureza dos documentários.
Este tipo de documentário é o que chamamos de Documentário de POV subjetivo. POV é ponto de vista. É um subgênero de documentário que busca, através de fatos, entrevistas e artifícios narrativos, posicionar-se de alguma forma. Ele é mais frequente do que imaginamos. Por exemplo, quando vemos o documentário sobre Michael J. Fox, “Still – Ainda Estou Aqui”, ele não diz quem é Michael, mas sim conta uma história do ponto de vista da luta dele contra o Mal de Parkinson. A posição do documentário claramente é de colocar o ator como um ídolo dessa luta, sem levar em consideração outros fatos de sua vida que poderiam talvez manchar essa imagem.
Matt Walsh é um podcaster / influenciador / Youtuber (ou sei lá que denominação se dá) da direita americana, apoiador de Trump (o que não é um bom sinal), mas que, até então, consegue dialogar sobre assuntos discordantes sem ser radical. Tanto que em seu documentário anterior, suas posições são todas tomadas a partir de entrevistas onde pessoas contrárias a ele são confrontadas por suas próprias idéias e, no mínimo, serve de reflexão.
Em “Eu Sou Racista?” a sua posição é de que, apesar de não negar a existência do racismo, ele acha que há uma obsessão em torno do tema e de que se formou uma indústria antirracista para extorquir dinheiro da culpa incauta da sociedade.
O problema é que ele não faz isso da mesma forma do seu trabalho anterior ao optar, com toda a sua arrogância por simplesmente expor as pessoas ao ridículo, chamando isso de “experimentos sociais”. Só que quem causa o ridículo é ele mesmo. Ao invés de deixá-las se colocarem em posição vulnerável ideologicamente, ele coloca uma peruca medíocre como se pudesse se disfarçar e vai enchendo o saco de todo mundo com os mais diversos tipos de idiotices.
Além disso, é importante frisar que a maneira que se lida com o tema do racismo nos EUA é muito diferente do que no Brasil (uma opinião minha é que estamos mais evoluídos nesse sentido e com discussões mais assertivas e profundas). Por isso talvez o espectador brasileiro estranhe inclusive o que está sendo abordado. Mas nem isso Walsh dá chance de aprofundar.
Ele chega ao cúmulo de ministrar uma aula de “anti-branquice” e em muitos momentos fica difícil de acreditar que essas coisas não foram combinados.
Se “Eu Sou Racista?” pode estar um tanto fora da realidade brasileira, seu protagonista e idealizador Matt Walsh monta um circo ridículo que nem discute o tema, nem avança em nenhuma das questões que ele mesmo propõe, e ainda se coloca num lugar de vilão odiável independente se ele tem sequer alguma razão ou não. Tempo perdido da pior forma possível.
Ficha Técnica:
Elenco:
Matt Walsh
Direção:
Justin Folk
História e Roteiro:
Justin Folk
Brian A. Hoffman
Matt Walss
Dallas Sonnier
Produção:
Justin Folk
Brian A. Hoffman
Charlotte Roland
Matt Walsh
Fotografia:
Anton Seim
Trilha Sonora:
Mitch Lee