Entrevista com o Demônio (“Late Night with the Devil”)

Era para ser um excelente filme que terminou apenas como muito bom, o que já foi mais longe do que muitos exemplares do gênero por aí.

A primeira sacada foi ressuscitar o estilo found footage documentary – tendo “A Bruxa de Blair” e “Atividade Paranormal” como representantes – só que como se fosse um programa de TV, sendo feito ao vivo.

É nesse formato que conhecemos o programa de auditório Night Owls em pleno Halloween de 1977 onde o apresentador Jack Delroy (David Dastmalchian de “Os Domésticos”) monta uma série de atrações que flertam com a paranormalidade o que pode despertar uma entidade maligna.

Nesse tipo de subgênero de terror, mais que em outros, sempre há uma construção lenta e sutil para um clímax forte, denso e rápido. A produção obedece a esse roteiro, como sempre espalhando pequenas pistas sobre a origem e motivações dos personagens e da tal entidade, o que leva a um resultado satisfatório como desfecho, mas nem tanto como construção.

Explico: a história é deliciosamente complexa e dramática – talvez tanto quanto o próprio clímax – mas a dupla de diretores, miraram tanto no desfecho que não deixaram espaço para que ela fosse propriamente contada (nas curiosidades faço o detalhamento da história) e, portanto, somente se o espectador tiver uma atenção enorme vai conseguir compreender 100% do que acontece, inclusive sobre o cerne das motivações que o tal “demônio” tem.

Dastmalchian está perfeito como o protagonista que ele sempre quis ser, o formato de programa de TV como linguagem convence, há alguns bons sustos no meio do caminho, o clímax é parte eletrizante, mas uma parte que só se entende se conhecer a história.

Entrevista com o Demônio” é diferente e original no que se propõe, tem uma ótima história que seria muito melhor aproveitada se os diretores mirassem mais em seu desenvolvimento do que no seu desfecho.

Curiosidades:

  • O personagem que desmascara de impostores, Charmichael, é baseado numa pessoa real, James Randi, ex-mágico e que fundou um instituto que pagaria uma grande soma para quem provasse a existência do paranormal ou sobrenatural. Nunca ninguém conseguiu provas para que o pagamento fosse feito.
  • Após os roteiristas definirem que o filme se passaria nos anos 70 e que seria num programa diário onde a grande leitura do IBOPE da época era feito numa segunda feira, o ano escolhido foi 1977, pois foi o único ano onde o Halloween caiu numa segunda.
  • David Dastmalchian por causa de um artigo que ele escreveu para a revista de horror Fangoria sobre apresentadores de programas de terror.
  • O culto The Grove foi inspirado no culto Bohemia Grove, que era uma espécie de maçonaria na Califórnia, nas décadas de 60 e 70.
  • O líder do culto satânico Szanzor D’abo, tem esse sobrenome porque em inglês se pronuncia “Diabo”, fazendo um trocadilho fonético.
  • As vinhetas de ida e vinda dos comerciais foram todas feitas por IA.
  • O médium que se apresenta no programa, Christou, também foi inspirado numa pessoa real, Criswell, que era conhecido ironicamente por suas previsões que quase sempre davam errado.
  • As cenas do time de SWAT são reais, mas na verdade são da polícia de Los Angeles executando mandatos de prisão para integrantes de um grupo criminoso chamado Exército de Libertação Simbiótico (SLA) no ano de 1974.
  • A logomarca da emissora UBC é uma clara analogia com a rede de TV americana ABC.
  • Há um momento em que um personagem diz “O poder de Cristo obriga você!” é que a icônica frase do clássico “O Exorcista”, um dos filmes homenageados aqui.
  • Há uma cena em que Carmichael convidou Ed e Lorraine Warren para investigar a casa de Amityville, mas eles não quiseram. Na verdade a fama de Ed e Lorraine (sim, os personagens que inspiraram a saga “Invocação do Mal”) ocorreu justamente depois da investigação que eles fizeram sobre a casa de Amityville, onde concluíram que havia um espírito obsessor que dominou a família Lutz, que viveu na casa por 28, retratada no original “Terror em Amityville”.

***SPOILERS – SÓ LEIA APÓS ASSISTIR AO FILME***

  • Vamos agora ao detalhamento da história: Quando Jack Delroy começou na TV e começou a frequentar um culto chamado The Grove, ele fez um pacto com o diabo para que seu programa fosse um sucesso. Como pagamento, o diabo clamou pela vida de sua esposa, Madeleine (Minnie), que morreu 7 anos depois. O espírito de Minnie clamando por vingança foi a presa do líder satânico D’abo que a prendeu no corpo da jovem Lilly, desencadeando o processo vingativo do espírito para destruir o sucesso de Delroy ao mesmo tempo em que consegue se libertar de Lilly. Por isso que no fim, Delroy sem querer esfaqueia e mata Lilly, acabando com sua carreira e libertando Minnie.
  • Apesar do espectador saber que o apelido de Madeleine, esposa de Delroy, é Minnie lá pelo meio do filme, logo no início quando se conta a história do apresentador em preto e branco, é possível vê-lo falando “Eu te amo Minnie” quando ela já estava enferma.
  • Reza a lenda no folclore tradicional que ao fazer um pacto com o demônio para coisas terrenas, ele virá cobrar seu pagamento em 7 anos. No filme Delroy aparece no culto “The Groove” em 1969 e sua esposa morre em 1976, 7 anos depois.
  • Há várias cenas onde se pode ver bem rapidamente o espírito de Minnie: em um monitor de TV, em frames durante falhas na transmissão, como reflexão no relógio de bolso de Carmichael, num espelho nos bastidores, etc.

Ficha Técnica:

Elenco:
David Dastmalchian
Laura Gordon
Ian Bliss
Fayssal Bazzi
Ingrid Torelli
Rhys Auteri
Georgina Haig
Josh Quong Tart
Steve Mouzakis

Direção:
Cameron Cairnes
Colin Cairnes

História e Roteiro:
Cameron Cairnes
Colin Cairnes

Produção:
Derek Dauchy
Mat Govoni
Roy Lee
John Molloy
Steven Schneider
Adam White

Fotografia:
Matthew Temple

Trilha Sonora:
Glenn Richards

Avaliações dos usuários

Não há avaliações ainda. Seja o primeiro a escrever uma.

Avalie o filme

Share on whatsapp
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on email
Share on telegram