Um musical tão original que nem precisaria ser musical. Um filme que é tão bom quanto esquisito.
A premissa é uma pérola: Zoe Saldana de “Os Guardiões da Galáxia” é Rita, uma advogada no México que é sequestrada pelo mais sanguinário traficante do país, Manitas (Karla Sofía Gascón, uma atriz transexual). Ele dá a ela uma missão muito peculiar: achar um cirurgião e conduzir todo o processo para que o traficante mude de sexo. Isso mesmo: não porque ele quer esconder sua identidade, mas porque sempre desejou ser mulher, mesmo que tenha conquistado toda sua fortuna através de violência e criminalidade. Essa jornada vai mudar a perspectiva de vida de ambas as personagens, mas também vai trazer consequências inesperadas e perigosas.
Vamos dar uma pausa para falar sobre os três tipos de musicais:
- O primeiro tipo é aquele musical onde a música é simplesmente um anexo à narrativa, como por exemplo, em biografias de artistas, onde funciona geralmente muito bem (“A Era de Ouro”, “Elvis”, “Rocketman”), pois constrói a própria carreira deste. Só que quando sai dessa seara, geralmente funciona muito mal, como em “Coringa 2”.
- O segundo tipo é quando a música faz parte da história e é o mais famoso. Basta ver em qualquer animação da Disney ou mais recentemente no sensacional “Wicked”.
- Finalmente o terceiro tipo é quando a música é a história, isto é, quando a música na verdade é um diálogo ou monólogo da trama, só que em tom de música. Esse é o tipo mais raro e também o que causa mais surpresa ao espectador.
“Emilia Perez” recai nessa categoria e sua grande missão é fazer o público se acostumar ao vai e vem da música que muitas vezes começa e só depois se percebe, por fazer parte do próprio diálogo. Pode-se dizer que os números variam de qualidade, mas sempre preservando a essência de ser a continuidade da história, mas que também faz com que as coreografias sejam um pouco mais simples e que as vozes do elenco não precisem de tanta afinação.
Dito isso, Zoe Saldana dá um show de dança e canto – em espanhol, diga-se de passagem – e está super “gente como a gente” o que eleva ainda mais a sua personagem.
O roteiro consegue equilibrar muito bem a participação das protagonistas e por mais característica que seja a premissa, todas as situações colocadas são críveis para o espectador e faz com que ele crie uma forte conexão com a história, já que ela fala de duas pessoas deslocadas no mundo, mas de maneira diferentes.
A única parte que deixou a desejar foi o desfecho, por ser rápido demais, não dar o devido tempo de absorção e ainda dar uma passada bem superficial no destino de Rita.
Baseado na obra de Boris Razon, “Emilia Perez” é uma pedida bem diferente com uma bela história de aceitação e mudança de vida, e da própria complexidade do ser humano. E um pouco de música pelo meio.
Ficha Técnica:
Elenco:
Zoe Saldana
Karla Sofía Gascón
Selena Gomez
Adriana Paz
Edgar Ramírez
Mark Ivanir
Eduardo Aladro
Direção:
Jacques Audiard
História e Roteiro:
Jacques Audiard
Thomas Bidegain
Léa Mysius
Nicolas Livecchi
Produção:
Jacques Audiard
Pascal Caucheteux
Valérie Schermann
Anthony Vaccarello
Fotografia:
Paul Guilhaume
Trilha Sonora:
Camille
Clément Ducol