Se uma imagem vale por mil palavras, o diretor Luca Guadagnino preferiu milhões de palavras que valem menos do que uma imagem.
O cineasta no mesmo ano de 2024 foi do genial “Rivais” ao fraquinho “Queer”, e aqui ele fica no meio termo: a protagonista aqui é a professora universitária Alma (Julia Roberts de “Ingresso ao Paraíso”) que enfrenta um dilema profissional e ético quando seu melhor amigo, o também professor Hank (“Todo o Tempo que Temos”) é acusado de estupro por sua mentoranda Maggie (Ayo Edebiri de “Divertida Mente 2”). Alma precisa escolher um lado, ou nenhum, sendo que ela mesma também esconde um segredo do passado, além de estar com o casamento em crise.
O tema é forte e muito bem discutido. O roteiro não repete e até identifica os clichês que esse assunto traz e constrói um caso interessante que, aliás, é facilmente resolvido. O problema é que, por ser algo não tão difícil de resolver, ele começa a jogar vários outros temas de todas as formas cores e tamanhos: entra o vício em remédios de uma personagem, o racismo (já que Maggie é negra), o patriarcado, a minoria trans, muitos com pouca ou nenhuma conexão necessária com a trama principal.
Outro incômodo é justamente a linguagem: desde o início os diálogos tentam ser profundos através de um ensaio de filosofia (afinal Alma e Hank são professores de filosofia), só que de repente, todos os personagens passam a falar filosoficamente flertando com o teatral, que até pode ser uma linguagem que o cineasta escolheu, mas que fica estranho ao combinar com o que deveria ser corriqueiro e trivial.
Ao invés de profundidade, há uma profusão de palavras difíceis que juntas dão essa sensação, mas numa análise fria, apenas reforçam o excesso que tenta substituir o conteúdo. Há algumas reviravoltas dignas de um bom suspense dramático, mas metade delas não tem a ver com a essência da história.
Por outro lado, a fotografia em seus closes realça o realismo que o elenco passa ao público e essa é a química que vai movendo o interesse da trama, mesmo que ela se desvia do caminho.
“Depois da Caçada” traz uma confluência de temas interessantes com um grande elenco, mas falha em misturar essas discussões, onde parte delas não dão em lugar algum.
Ficha Técnica:
Elenco:
Julia Roberts
Ayo Edebiri
Andrew Garfield
Michael Stuhlbarg
Chloë Sevigny
Lio Mehiel
Thaddea Graham
Will Price
Christine Dye
Nora Garrett
Direção:
Luca Guadagnino
História e Roteiro:
Nora Garrett
Produção:
Jeb Brody
Luca Guadagnino
Allan Mandelbaum
Fotografia:
Malik Hassan Sayeed
Trilha Sonora:
Trent Reznor
Atticus Ross
