Esse é aquele filme de personagem que leva seu protagonista ao Oscar. Geralmente combinado a uma boa história, o tal personagem atravessa uma complexa jornada. Curiosamente, nessa cinebiografia de Mark Kerr, um dos pioneiros do UFC, há muito do personagem e pouco da história, sendo algo mais íntimo do que épico e onde as lutas fazem parte, mas não necessariamente são a essência doroteiro.
O UFC é a derivação do Vale-Tudo brasileiro, marcas criadas pela brasileiríssima família Gracie e depois compradas por Dana White. Kerr (Dwayne Johnson de “Operação Natal”) começa a despontar justamente no Brasil e junto com seu melhor amigo e lutador Mark Coleman (o lutador de MMA Ryan Bader) deve enfrentar as vitórias, as derrotas, seu vício em opioide e ainda sua tóxica relação com a namorada Dawn (Emily Blunt de “O Dublê”).
O diretor Benny Safdie do excelente “Jóias Brutas” tomou quase todas as decisões artísticas corretas, seja no tipo de câmera, angulações, design e narrativa com o roteiro que escreveu. O roteiro tem um certo malabarismo porque a superação de Kerr é muito mais interior do que o atingimento de algum marco histórico de sua carreira, o que passa a impressão de um certo vazio narrativo, principalmente no desfecho.
É aí que o The Rock deita e rola, pois é como se ele tivesse todos os holofotes para si, pois a história é ele mesmo e suas ações, reações e decisões frente ao que aparece. O mais incrível é ele ser completamente diferente no papel de alguém com background semelhante já que, mesmo em momentos e contextos diferentes, ambos, ator e personagem foram lutadores de Wrestling no WWE. Ele consegue estar irreconhecível, mesmo fazendo algo em que tem prática. Blunt também está ótima e desponta no último ato, mas Johnson carrega literalmente o filme nas costas.
Como sempre no final o personagem real aparece a título de comparação com a performance do ator e sempre surpreende.
“Coração de Lutador” tem muito conteúdo de vida e pouco de história, uma atuação emblemática de Dwayne Johnson, mas com alguns caminhos dispersos de roteiro. O saldo é muito positivo.
Curiosidades:
- Em 2002 foi lançado um documentário sobre Mark Kerr com o mesmo título do filme.
- O treinador de Kerr, Bas Routen faz o papel dele mesmo, apesar de estar 20 anos mais velho que seu personagem.
- Apesar do UFC ter sido criado e ter tido lutadores da família Gracie, nenhum deles aparece nem como participação ou como personagem. O que aparece bastante é a bandeira do Brasil nos eventos.
- A idéia do filme veio de Dwayne Johnson em 2019, mas foi em 2022 que Emily Blunt o reaproximou do diretor Benny Safdie.
- A última briga do filme entre Kerr e Dawn foi filmado em apenas um take.
Ficha Técnica:
Elenco:
Dwayne Johnson
Emily Blunt
Ryan Bader
Andre Tricoteux
Jill Basey
Raja Flores
Bas Routen
Direção:
Benny Safdie
História e Roteiro:
Benny Safdie
Produção:
Eli Bush
Dany Garcia
Hiram Garcia
Dwayne Johnson
David Koplan
Benny Safdie
Fotografia:
Maceo Bishop
Trilha Sonora:
Nala Sinephro