Carol

Carol” é um filme que vence por dois fatores meio que paradoxais, mas que no final se complementam. Primeiramente parece um filme intimista que foca nas duas protagonistas, Therese (Rooney Mara de “Peter Pan”), uma tímida balconista que é abordada por Carol (Cate Blanchett de “Cinderela”) uma socialite da classe média alta da década de 50 que descobriu há muito que seu amor e paixão não tem rótulos e, mesmo casada teve um caso com uma amiga, mas que agora, em vias da separação, depara-se com a jovem Therese e aos poucos um sentimento começa a se formar entre as duas, trazendo duras consequências numa sociedade ainda machista e não esclarecida em relação à sexualidade.

A atuação de ambas é soberba com Mara, tímida com sentimentos conflitantes com os quais nem sempre sabe lidar; enquanto Carol que se perpassa como o macho alfa da relação, sempre segura, mas que esconde um lado frágil, principalmente no que tange a filha. A química das atrizes é imediata onde, por muitas vezes, as cenas se expressam mais pelos olhares e por aquilo que não é dito do que meramente pelas palavras. E o diretor Todd Haynes (que já trabalhou com Blanchett em “Não Estou Lá”) não só explora isso ao máximo, como deixa até uma pista sobre sua abordagem num diálogo quando dois personagens comentam o clássico “Crepúsculo dos Deuses” onde há o mesmo recurso.

O outro ponto da narrativa que se destaca é a reverberação que o caso das duas gradativamente vai atingindo as pessoas envolta e a sociedade. Longe de fazer disso algo panfletário, Haynes parece entender as reações realistas de personagens complexos que muitas vezes se chocam mais pela rejeição do que pelo momento homossexual das personagens, e constrói uma teia de relacionamentos multidimensionais, saindo dos lugares comuns.

Além disso, os aspectos técnicos também são memoráveis: a cenografia que vai de lugares abertos até a apartamentos da época onde a interação entre cenário e personagem se destaca (reparem a naturalidade com que Therese abre uma geladeira daquela época para pegar bebidas com a agilidade com que Carol tira o cigarro da antiga cigarrilha e o acende com um isqueiro com um mecanismo que nem se fabrica mais). Nem é preciso dizer que tudo isso é captado pelo diretor de fotografia Edward Lachman (“A Vida Durante a Guerra”) de forma orgânica e ao mesmo tempo poética.

Finalmente chegamos a trilha sonora que de tão boa foi dada de presente a todo o elenco antes das filmagens. Composição e escolha do premiadíssimo Carter Burwell de “Sr. Sherlock Holmes”.

O que se complementa em “Carol” é que ele consegue ser bem íntimo e ao mesmo tempo mostrar o retrato da sociedade americana nos anos 50 onde o parecer vale mais que o ser e onde olhares revelam aquilo que as palavras escondem. E que final!

Curiosidades:

– Na cena da loja onde Carol conhece Therese, as três crianças brincando no trem são os filhos de Cate Blanchett.
– Ambas as atrizes concorreram ao Oscar. A polêmica foi que Rooney Mara concorreu a melhor atriz coadjuvante, mas tem seis minutos a mais em cena que Cate Blanchett que concorreu na categoria principal de melhor atriz. Os estúdios fizeram isso pela probabilidade de Blanchett vencer. Pelo visto a estratégia não deu certo.
– O filme é baseado no livro homônimo, antes chamado de “O Preço do Sal” escrito por Patricia Highsmith, a mesma autora de “O Talentoso Sr. Ripley” cuja a adaptação cinematográfica também tem Cate Blanchett no elenco.

Ficha Técnica

Elenco:
Cate Blanchett
Rooney Mara
Kyle Chandler
Jake Lacy
Sarah Paulson
John Magaro
Cory Michael Smith
Kevin Crowley
Nik Pajic
Carrie Brownstein
Trent Rowland
Sadie Heim
Kk Heim

Direção:
Todd Haynes

Produção:
Elizabeth Karlsen
Christine Vachon
Stephen Woolley

Fotografia:
Edward Lachman

Trilha Sonora:
Carter Burwell

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