https://www.youtube.com/watch?v=uS-eKRAqQkE
Há muito tempo, filmes de zumbi não são apenas um subgênero de terror, mas um simbolismo que permeia vários outros gêneros. Em 2013 foi feito um premiado curta-metragem homônimo que foi adaptado para a tela grande pela mesma dupla de diretores – agora estreantes nesse formato – como um filme original da Netflix, sendo muito mais um drama do que outra coisa.
Num mundo pós apocalíptico por conta de zumbis, em pleno sul da Austrália, Andy (Martin Freeman de “Pantera Negra”) vaga com sua família tentando se proteger de possíveis ameaças. Após uma tragédia, Andy não só fica sozinho com a filha de 1 ano como também é mordido por um zumbi e tem 48 horas para achar alguém que fique com a sua filha antes que ele próprio se transforme.
Assim, a produção toma a decisão acertadíssima de focar na jornada emocional do protagonista, dividido entre o amor incondicional pela sua filha e a inevitabilidade biológica de se transformar num zumbi, o que o levaria a mata-la. A sequencia de eventos foi colocada numa forma coesa e não como apenas várias fases de uma tentativa de deixar a bebê nas mãos de qualquer um, o que desenvolve uma afinidade ainda maior com o expectador.
Outro ponto muito bem explorado, já que é uma produção australiana, é a relação entre a cultura ocidental com a aborígene (os nativos da Austrália), onde estes desenvolvem não só um papel fundamental como são parte da trama. Aliás, numa visão mais aprofundada, os zumbis não deixar de simbolizar a poluição de uma cultura invasora querendo engolir aquela que já estava presente, o que fica claro no terceiro ato.
Claro que sair de um curta de 1 minutos para um filme de cinema exigiu alguns sacrifícios narrativos, como uma demora na transformação de Andy que parece ser muito mais uma conveniência do roteiro do que algo natural, mas nada que abale ou insulte a inteligência do espectador.
No mais, Freeman se supera com uma atuação contida e emocionante, a idéia dos zumbis e a maneira como são apresentados gradativamente gera um ótimo suspense, principalmente no primeiro ato; e a fotografia de Geoffrey Simpson (“As Sessões”) retrata uma Austrália de natureza implacável, mas ao mesmo tempo que gera recursos para a própria sobrevivência humana.
“Cargo” tem uma abordagem bastante humana para um filme de zumbi e sem dúvida carrega uma boa dose de emoção e suspense que gera um diferencial. Recomendado!
Curiosidades:
– Apesar do filme se passar todo num clima ensolarado, a equipe de filmagem enfrentou chuvas torrenciais e até uma inundação que a fez ser evacuada de um dos sets por alguns dias.
– Apesar de ter filmado “O Hobbit” na Nova Zelândia, o ator Martin Freeman nunca havia ido a Austrália até filmar “Cargo”.
– Cada vez que alguém falasse um palavrão nas filmagens, a pessoa teria que dar 1 dolar para uma ONG de proteção à cultura aborígene. Martin Freeman foi quem mais doou / falou palavrões.
Ficha Técnica
Elenco:
Martin Freeman
Anthony Hayes
Susie Porter
Caren Pistorius
Kris McQuade
Natasha Wanganeen
Bruce R. Carter
Simone Landers
David Gulpilil
Direção:
Ben Howling
Yolanda Ramke
Produção:
Russell Ackerman
Kristina Ceyton
Samantha Jennings
Mark Patterson
John Schoenfelder
Fotografia:
Geoffrey Simpson