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Poucos riscos no cinema valeram tanto a pena como filmar a sequência do icônico “Blade Runner – O Caçador de Andróides” do mestre Ridley Scott trinta anos depois. Aqui Scott fica na cadeira de produtor e consultor criativo, enquanto o gênio Denis Villeneuve (“A Chegada”) assume a batuta da direção.
Três décadas depois, há uma novo modelo de replicantes, teoricamente do bem, criados pela empresa do magnata cego Niader Wallace (Jared Leto de “Esquadrão Suicida”). Nesse contexto, os Blade Runners continuam existindo e caçando os modelos antigos que ainda vagam pela Terra. O agente K (Ryan Gosling de “La La Land”) é um replicante da nova geração que, numa de suas caçadas faz uma descoberta tão surpreendente que pode mudar tudo o que se sabe a respeito de suas origens, bem como desvendar uma conspiração em curso.
Essa continuação consegue ao mesmo tempo ter uma força autônoma, mas presta todas as homenagens possíveis ao original. O design de produção para fazer a opressiva megalópole, palco dos eventos, é impressionante em escala, criatividade e diversidade. Envolto a isso, aprofunda muito mais na questão da auto-consciência que nos faz humanos, mas aplicados aos replicantes: mostrar a vida de K que, em tese não devia ter sentimentos, mas parece inseguro de sua própria existência é não só uma das melhores partes da narrativa, como também acaba sendo o fio condutor da trama.
A ambientação só é completa com a onipresente trilha sonora da dupla Benjamin Wallfisch e Hans Zimmer que também arrasaram em “Dunkirk” e aqui mirturam fortes acordes ameaçadores, com paletas de games e uma inquietante sonorização como se uma tragédia estivesse sempre em vias de acontecer e os personagens fossem observados o tempo inteiro (homenagem à “1984”).
Por sinal, uma das grandes proezas do diretor e do elenco é fazer o espectador se apaixonar por um holograma, a namorada virtual de K, Joi – tudo bem que ela é a deliciosa e apaixonante Ana de Armas (“Cães de Guerra”), mas ainda assim seu arco dramático rivaliza com o dos demais personagens de carne, osso e metal.
O roteiro também é impecável e a trama cheia de pequenas reviravoltas que só enriquecem os eventos por vir e aumentam a complexidade dos personagens. Alguns vão torcer o nariz para a pouca quantidade de ação, mas quando ela chega, consegue ser visceral e intimista ao mesmo tempo, isto é, até a ação se concentra muito mais nos personagens do que no ambiente entre si (repare como uma cena de perseguição e luta no terceiro ato consegue ser econômica, mas passa muito mais intensidade do que os enlatados do gênero).
Blade Runner 2049 é talvez a melhor ficção científica do ano e que facilmente está no mesmo patamar de seu antecessor, sendo deliciosamente retrô e futurista ao mesmo tempo com referências à grandes obras literárias sobre os futuros mais sombrios. Obrigatório (mas veja o primeiro antes).
Curiosidades:
– As lentes que Jared Leto usava para simular a cegueira realmente não o deixavam ver nada. Inclusive para compor o personagem, ele trabalhou numa associação de cegos por algumas semanas.
– A música que inicializa Joi são os primeiros acordes da sinfonia “Pedro e o Lobo”.
– Blade Runner teve vários cortes diferentes e o ousado como antecessor foi o último de 2007.
Ficha Técnica
Elenco:
Ryan Gosling
Harrison Ford
Ana de Armas
Jared Leto
Dave Bautista
Robin Wright
Wood Harris
David Dastmalchian
Tómas Lemarquis
Sylvia Hoeks
Edward James Olmos
Sallie Harmsen
Hiam Abbass
Mackenzie Davis
Sean Young
Direção:
Denis Villeneuve
Produção:
Broderick Johnson
Andrew A. Kosove
Ridley Scott
Cynthia Sikes
Bud Yorkin
Fotografia:
Roger Deakins
Trilha Sonora:
Benjamin Wallfisch
Hans Zimmer
Respostas de 2
Muito legal a crítica. Alias, quando vi 4,5 estrelas, estava sem tempo para ler mas me empolguei com a nota e fui para o cinema: nunca dormi tanto em um filme quanto esse, mas os “tóim” e “peim” da trilha sonora me faziam acordar assustado.
O filme deve ser bom realmente, apenas não é para mim mesmo com toda certeza rs. Agora lendo a crítica toda, entendi o que aconteceu comigo: “Alguns vão torcer o nariz para a pouca quantidade de ação”
Somente uma correção: Pedro e o Lobo não é uma sinfonia e sim um ballet infantil, de Prokofiev.