Quem diria que um dos melhores filmes do ano passado seria um musical e não estamos falando de “Wicked”, mas sim de uma cinebiografia de um cantor que, apesar de aclamado no Reino Unido, teve sua carreira no auge na década de 90 até os idos de 2010, Robbie Williams, ex-integrante da boyband Take That que seguiu carreira solo e quase se autossabota com seus problemas com drogas.
O diretor Michael Gracey, que não é um estranho no gênero e já dirigiu o ótimo “O Rei do Show”, fez a seguinte pergunta para o cantor nas entrevistas prévias do filme: “Qual o animal que você se sente? – e ele respondeu que era um macaco. Então ele norteou toda a produção substituindo o protagonista por um macaco. Sim, semelhante aos efeitos especiais que vemos na franquia “Planeta dos Macacos”, só que infinitamente melhor (inclusive teve a indicação de Melhores Efeitos Especiais no Oscar).
O filme enfoca bastante as questões mais polêmicas do cantor como seus problemas familiares (a cena final com o pai é de chorar), seus vícios em drogas e mulheres devido a uma carreira meteórica e sua rebeldia beirando a autodestruição.
Com uma energia muito parecida com “Rocketman” (sobre Elton John), o diretor submerge o espectador num eletrizante drama musical, com números muito bem coreografados, participações inusitadas na carreira de Williams, e principalmente, convence o público de que aquele protagonista pode ser sim um macaco e que o universo contextual do filme simplesmente aceita e ainda se torna melhor.
A interação do personagem como macaco com o resto do elenco e com os diversos objetos de cena, principalmente que interagem com sua face em CGI é uma atração a parte. A própria ação de beijar, fumar, cheirar (sim, cocaína) parece trivial, mas envolve um conjunto enorme de detalhes. Aliás, os closes na face do macaco Williams são tão reais que tiram o fôlego.
Se por um lado temos no repertório as belíssimas músicas “I found heaven”, “Angel”, “Something beautiful”, “She’s the one” entre outras, sente-se falta das famosas do Take That, como “Back for Good”, por conta dos direitos autorais e de algumas outras dele solo, mais recentes (ou menos antigas) como “Advertising Space”, lembrando que o filme cobre a carreira do cantor mais ou menos até 2003.
“Better Man” é uma aula de como se fazer um musical de primeira linha com uma ótima história independendo da relevância do protagonista mesmo num período tão frívolo musicalmente, e faz funcionar todas as engrenagens perfeitamente.
Curiosidades:
- A série de entrevistas que levou ao filme durou 1 ano e meio. Muitas das falas das entrevistas fazem parte da narração em off do filme.
- Na telona o Robbie Williams macaco é interpretado pelo desconhecido ator Jonno Davies.
- Um dos cartazes do filme replica a capa do primeiro álbum do cantor de 1997, “Life Thru A Lens”.
- A série que Williams sempre assistia com a sua avó se chama “The Two Ronnies” de 1971.
- Em 2010 o Take That fez um “come back”, inclusive com Robbie Williams. Lançaram um álbum que ficou no topo das paradas britânicas e, meses depois, a banda se separou e sobraram apenas 3 integrantes que continuam até hoje. Um deles é o também famoso cantor Gary Barlow.
- O filme vencedor do Oscar “Anora” tem a música “Greatest Day” do Take That, gravada quando Robbie Williams já estava fora da banda, em 2008.
- “Emilia Perez”, indicado ao Oscar usa uma música do cantor: “Swing Supreme” de 2013.
Ficha Técnica:
Elenco:
Robbie Williams
Jonno Davies
Steve Pemberton
Alison Steadman
Kate Mulvany
Frazer Hadfield
Damon Herriman
Raechelle Banno
Tom Budge
Jake Simmance
Liam Head
Chase Vollenweider
Jesse Hyde
Anthony Hayes
John Waters
Leo Harvey-Elledge
Chris Gun
Direção:
Michael Gracey
História e Roteiro:
Simon Gleeson
Oliver Cole
Michael Gracey
Robbie Williams
Produção:
Jules Daly
Michael Gracey
Coco Xiaolu Ma
Craig McMahon
Fotografia:
Erik Wilson
Trilha Sonora:
Batu Sener
