Em 2020 o cineasta Spike Lee homenageou um dos destacamentos de soldados negros enviados ao Vietnam no bom, mas peculiar “Destacamento Blood”.
Agora em 2024 o diretor, produtor e roteirista Tyler Perry homenageia o único batalhão de mulheres negras enviadas para a 2ª Guerra Mundial.
Para quem não conhece, Tyler Perry é um dos homens mais ricos de Hollywood e um dos mais ativistas na causa racial. Ele começou sua carreira no teatro e na estrada até que em 2005 escreveu um filme sobre uma personagem que ele já interpretava no teatro desde 1999: Madea, uma mulher de meia idade, tentando dar uma pegada parecida com o que Paulo Gustavo fazia com “Minha Mãe é uma Peça”.
Só que, cá pra nós, o filme é bem chatinho, pelo menos para o público brasileiro. Só que nos EUA, ele fez um sucesso estrondoso que montou uma franquia bilionária, até porque nunca vendeu os direitos, tendo o controle total de criação.
Voltando ao filme, o diretor usa de todos os clichês emotivos – que funcionam – para contar essa história, centralizando na líder do batalhão, a Major Adams (Kerry Washington de “Detalhes” num de seus melhores papéis) e a soldada Lena (Ebony Obsidian de “Se a Rua Belle Falasse”), que perdeu se amor na guerra e se alistou para encontra-lo.
O roteiro segue uma lógica até que burocrática, mas é impossível não se sensibilizar sobre como o machismo, a misoginia e o racismo se abatiam sistematicamente nas mulheres do batalhão, muitas vezes com a obrigação de se submeter a preconceitos de superiores na hierarquia militar.
A reconstituição de época é boa, talvez até caprichada demais, a missão que envolve a entrega da correspondência durante a guerra é desenhada de modo a formar um arco intrigante e quando chega nas cenas dos créditos contando a história real, ela se torna ainda mais relevante.
Kerry Washington está especialmente soberba, mostrando feminilidade num papel duro, ao mesmo tempo a que mais atura o preconceito estrutural e, ao mesmo tempo, tenta se manter – muitas vezes por um fio – como líder inabalável.
A trilha sonora de Aaron Zigman (“A Bala de Deus”) vai mexer com as lágrimas dos espectadores em vários momentos, principalmente no desfecho.
“Batalhão 6888” segue o caminho seguro das produções pré-planejadas, mas consegue extrair emoção em ótimos momentos e das ótimas atuações, além de ser uma história edificante por si só.
Curiosidades:
- Tyler Perry fez o filme rapidamente só para mostrar à verdadeira Lena que ainda estava viva na época. Ela chorou e agradeceu ao diretor sobre o reconhecimento. Lena faleceu poucos meses depois em janeiro de 2024 com 100 anos, pouco antes do filme fazer sua estréia nos EUA.
- Após o falecimento de Lena, até o fim de 2024 haviam apenas duas mulheres vivas que pertenceram ao batalhão retratado no filme.
- Antes de voltar aos EUA, o batalhão teve uma missão semelhante em Paris para onde foi transferido.
- Na realidade, Lena não teve esse grande amor perdido na guerra. Adams era apenas um grande amigo dela e sim, faleceu logo em sua primeira missão.
- Segundo relatos, o filme pega leva sobre as condições em que as mulheres do batalhão trabalhavam e viviam. Na realidade eram muito piores.
- O batalhão só teve sua ação reconhecida pelo governo dos EUA em 2022.
***SPOILER – SÓ LEIA APÓS ASSISTIR AO FILME***
- A cena das palmas no final nunca existiu. Foi escrita apenas para efeito dramático.
- O acidente com o Jeep onde morrem 3 mulheres do batalhão só aconteceu na segunda missão em Paris, mas para efeitos dramáticos, Perry adicionou a cena como se fosse na primeira missão.
Ficha Técnica:
Elenco:
Kerry Washington
Ebony Obsidian
Milauna Jackson
Kylie Jefferson
Shanice Shantay
Sarah Jeffery
Pepi Sonuga
Moriah Brown
Jeanté Godlock
Dean Norris
Sam Waterston
Susan Sarandon
Oprah Winfrey
Gregg Sulkin
Direção:
Tyler Perry
História e Roteiro:
Tyler Perry
Produção:
Nicole Avant
Angi Bones
Carlota Espinosa
Tyler Perry
Keri Selig
Tony L. Strickland
Fotografia:
Michael Watson
Trilha Sonora:
Aaron Zigman