Laureado em vários festivais internacionais em 2013, “Azul é a Cor Mais Quente” é o cinema francês na sua modalidade erótico-sedutora em boa forma. Fala sobre a vida pessoal de Adèle, vivida pela apaixonante Adèle Exarchopoulos (que boca é aquela meu Deus?!). Ela começa sua jornada como uma estudante que passa a explorar mais sua sexualidade quando se sente atraída por meninas, surpreendendo a ela mesma. Seu desejo explode quando conhece Emma (Léa Seydoux de “O Grande Hotel Budapeste”), lésbica assumida com leves trejeitos masculinos que gosta de curtir a vida. Elas iniciam uma tórrida paixão, mas o filme fala justamente sobre o antes, durante e depois, com todos os problemas e fraquezas intrínsecas do ser humano.
É interessante como enfoca a realidade dos jovens parisienses com um consumo de tabaco propício para que câncer de pulmão seja como a nossa gripe, onde personagens fumam a cada cinco minutos (uma pena que isso quase estrague a beleza da dupla de protagonistas). Aliás, elas, como não poderia deixar de ser, são o ponto alto da obra em todos os sentidos: Adèle Exarchopoulos representa uma mulher que parece permanentemente deslocada de seu habitat natural, qualquer que sela ele, chegando num ponto onde ela parece nem saber a que lugar pertence e seu desfecho representa a profunda consciência do fato e a subida indiferença. Já a Emma de Léa Seydoux representa a maturidade e determinação de uma mulher e com louvor destrói qualquer estereótipo sobre homossexualidade. Elas juntas então são um sonho. Suas cenas de sexo altamente eróticas e praticamente explícitas tem uma química que faz qualquer libido aflorar.
a grande proeza da obra é tornar o sentimento que Adéle nutre por Emma, bem como todos os demais sentimentos, seja de possessividade, indiferença, traição, perda e melancolia, palpáveis, quase tangíveis em cada cena, com uma competência ímpar.
Com tudo isso, a direção e roteiro pecam num ponto crucial, principalmente para o expectador médio: o filme tem três horas de duração, mas não tem conteúdo para tal. No intuito de capturar a essência das personagens (principalmente de Adèle), o diretor Abdellatif Kechiche filma longas tomadas e as prolonga muito depois de já ter passado a idéia. Tanto que quando vemos as cenas de sexo, temos a certa impressão de que são apelativas, pois demoram uma eternidade (e que eternidade boa, por sinal). Entretanto depois percebemos que a maioria das sequencias foram filmadas de maneira a se gastar muito mais tempo que o necessário. Decerto, conseguir-se-ia atingir o mesmo efeito numa edição mais ágil, que pudesse durar até duas horas. Mesmo que em todas as tomadas, ele prime por uma bela fotografia e sempre haja atuações relevantes, as demoras acumuladas podem gerar algum desinteresse do público.
Baseado na HQ de Julie Maroh (sim, numa HQ), “Azul é a Cor Mais Quente” é uma bela história com belas atrizes e atuações que trata um tema polêmico com uma leveza com a qual todo mundo deveria tratar: apenas como duas pessoas que passam por um processo de conhecimento, relação e perda, além do que fica e se aprende durante o processo. Porém se beneficiaria muito mais com a concentração de sua narrativa num tempo um pouco mais compacto.
Ficha Técnica
Elenco:
Léa Seydoux
Adèle Exarchopoulos
Salim Kechiouche
Aurélien Recoing
Catherine Salée
Benjamin Siksou
Mona Walravens
Alma Jodorowsky
Direção:
Carlos Saldanha
Produção:
Brahim Chioua
Abdellatif Kechiche
Vincent Maraval
Fotografia:
Sofian El Fani