O drama alemão explora a complexidade de uma relação entre pai e filha tão diferentes, vivendo em mundos mais diferentes ainda.
Peter Simonischek de “Animais Fantásticos” é Winfried e tem alguma peculiaridade psicológica que nunca é dita no filme, mas ele adora criar personagens para entreter (e às vezes irritar) quem está a sua volta, sempre levando consigo uma dentadura falsa que a coloca para fazer a mudança de persona.
Sandra Hüller de “Movimento Browniano” é Ines, uma workaholic que nunca tem tempo para a família e ainda mora na Romênia. Seu pai então vai passar as férias com ela na Romênia e cria um alter ego chamado Toni Erdmann como um life coach para acompanhá-la, o que faz ela inicialmente quase surtar. Só que Winfriend também vai descobrir que sua filha está longe de ser uma santa e a produção fala justamente dessa jornada de autodescobrimento de ambos e da reconexão de seu relacionamento.
O grande pilar da obra é mesmo a atuação da dupla de protagonistas que se revezam com grande equilíbrio em tempo de câmera. Mas do que uma série de situações, a diretora Maren Ade investe um bom tempo para que o espectador possa conhece-los melhor inclusive com cenas de pura contemplação ou então acompanhando a jornada emocional de ambos.
Simonischek faz uma performance de arrancar lágrimas pela sua introspecção e ao mesmo tempo desespero de se reconectar com uma filha que parece nunca ter conhecido de verdade, enquanto Hüller interpreta alguém que no meio de um burnout começa a se redescobrir.
Longe de ser uma comédia, conta com algumas cenas até pesadas, como a tentativa de sexo de um colega com Ines com um desfecho bastante gráfico ou a festa pelada da firma que mostra uma reviravolta no psicológico da protagonista. Peculiar também foi a decisão de quase ausência completa de trilha sonora, o que torna as cenas ainda mais impactantes, já que muitas vezes o silêncio resulta numa forte ferramenta dramática.
Contudo, nada justifica quase 3 horas de filme. Chega a ser uma maratona para o espectador, já que a construção, apesar de bela, é lenta e muitas vezes o público fica à parte do caminho que está sendo tomado na narrativa até bem depois. Isso inclusive se retrata perfeitamente em seu desfecho tocante e emblemático.
“As Faces de Toni Erdmann” cativa, encanta, mas é para um público mais acostumado com uma história que se move mais ao sabor do vento do que seguindo uma linha mais comercial.
Curiosidades:
– A fantasia que Winfried usa no final se chama Kukeri, um totem usado na Bulgária para afastar maus espíritos.
– Winfried foi parcialmente baseado no próprio pai da diretora Maren Ade juntamente com o saudoso comediante Andy Kauffman.
– A produção teve 120 horas de filmagem e demorou 1 ano para ser editado. Nesse espaço de tempo a diretora deu a luz ao seu segundo filho.
Ficha Técnica
Elenco:
Sandra Hüller
Peter Simonischek
Michael Wittenborn
Thomas Loibl
Trystan Pütter
Ingrid Bisu
Hadewych Minis
Lucy Russell
Victoria Cocias
Alexandru Papadopol
Victoria Malektorovych
Ingrid Burkhard
Jürg Löw
Ruth Reinecke
Direção:
Maren Ade
Produção:
Maren Ade
Jonas Dornbach
Michel Merkt
Fotografia:
Patrick Orth