Há 25 anos o diretor M. Night Shyamalan estreava no cinema redefinindo o gênero suspense com “Sexto Sentido” com um plots twists mais surpreendentes de todos os tempos e com a cereja de bolo de que a resposta estava lá o tempo todo.
Sem saber ele criou um problema para si próprio no momento em que seu sucesso definiu tudo o que ele iria fazer desde então e, com esse mesmo estilo foi criando diversas produções. “Corpo Fechado” no ano seguinte foi um drama de super-herói surpreendente, até que depois de “Sinais” em 2002 as coisas começaram a desandar. Até que os ridículos “Dama da Água” e “Fim dos Tempos” praticamente enterraram suas pretensões criativas e a partir de então ele nunca mais foi o mesmo com as raras exceções do sensacional “Demônio” que ele só produziu, e de “Vidro” que fechou a trilogia iniciada por “Corpo Fechado” com dignidade.
Por isso é importante dizer que “Armadilha” é o seu melhor filme em um bom tempo. É quase um filmaço. Esse quase pende para o positivo e também para o negativo por um mesmo motivo: digamos que é o filme em que Shyamalan foi menos Shyamalan que a média, consolidando como um bom suspense com boas reviravoltas.
Como na maioria dos filmes do diretor – até mesmo nos ruins – a premissa é intrigante e instigante: Josh Hartnett de “Oppenheimer” é Cooper, um pai de família que leva sua filha para o show da cantora Lady Raven (interpretada por uma das filhas do diretor, Saleka Shyamalan).
Já dentro da arena ele percebe uma movimentação intensa da polícia e descobre que o show é uma armadilha para capturar um perigoso serial killer que, segundo informações, estaria presente no show. Detalhe: ele é o serial killer (não é spoiler, pois o trailer já entrega). Então Cooper deve achar uma saída para que a polícia não o pegue e ainda sem deixar sua filha saber de seu segredo.
Só o fato da primeira reviravolta já estar no trailer e a forma que o filme elegantemente a apresenta já é digno de nota. A partir daí, o roteiro desenvolve uma série de situações que podem beneficiar ou não o assassino, com inúmeras coincidências que podem torcer o nariz dos puristas, mas que se tornam deliciosamente envolventes quando combinadas com a personalidade do protagonista.
Eis, aí mais uma diferença no jeito Shyamalan nessa obra: enquanto nas anteriores as histórias tomavam conta da mente do espectador tornando os personagens quase secundários, aqui Hartnett faz toda a diferença e praticamente é o grande pilar de sustentação da trama. Ele consegue vestir um personagem diabólico, mas que realmente ama sua filha e se encontra num dilema muito maior do que apenas escapar da polícia.
O roteiro vai sempre tendendo para que Cooper tenha que fazer uma escolha entre a liberdade ou a sua filha, fazendo com que ele tente driblar esse dilema até talvez não ser mais possível. A reviravolta é boa, mas vou dar uma dica sem spoiler: o próprio trailer da a dica do plot twist.
Porque o filme não é melhor: porque Shyamalan é menos Shyamalan e no terceiro ato resolve descambar para o clichê de filme americano básico, com vários elementos que o público já viu e que geralmente não funciona, sendo que aqui também deixou de funcionar. Inclusive com um desfecho tão desnecessário que a gente quase passa raiva.
Ainda assim “Armadilha” é original no que se propõe, tem uma ótima dinâmica por mais que force a barra em algumas situações, tem talvez o melhor protagonista de um filme de Shyamalan, rivalizando com Bruce Willis há 25 anos e só faltou um pouco mais de coesão no final, pois acabou se entregando aos lugares comuns.
Curiosidades:
- M. Night Shyamalan participa do filme interpretanto o tio da filha dele (Leia de novo).
- Há uma cena no início que aparece um outdoor com a propaganda de “Os Observadores“, filme dirigido pela outra filha do diretor, Ishana Night Shyamalan.
- O tal cantor The Thinker é interpretado pelo também cantor Kid Cudi.
Ficha Técnica:
Elenco:
Josh Hartnett
Ariel Donoghue
Saleka Shyamalan
Alison Pill
Hayley Mills
Jonathan Langdon
Mark Bacolcol
Marnie McPhail
Kid Cudi
Russ
Marcia Bennett
Vanessa Smythe
M. Night Shyamalan
Direção:
M. Night Shyamalan
História e Roteiro:
M. Night Shyamalan
Produção:
Marc Bienstock
Ashwin Rajan
M. Night Shyamalan
Fotografia:
Sayombhu Mukdeeprom
Trilha Sonora:
Herdís Stefánsdóttir