Robert Zemeckis é e sempre foi um pioneiro e desde a década de 70 vem testando novas tecnologias e novas abordagens em seus filmes. Já escreveu páginas da história do cinema diversas vezes, como por exemplo na trilogia “De Volta Para o Futuro”, só para citar um exemplo. Nos últimos 10 anos foi bastante ativo, mas oscilou em qualidade de seus filmes, criando alguns ótimos exemplares como o premiado “O Vôo”, “A Travessia” e “Aliados” com o fraco “Convenção das Bruxas” e o horroroso “Pinóquio”.
Em “Aqui” ele pega suas melhores e piores características. Primeiramente há o pioneirismo na abordagem de se fazer um filme inteiro em um só ponto de vista, ou por assim dizer, uma só câmera, que fica localizada no canto da sala de uma casa.
O filme começa mesmo antes da casa ser construída, na pré-história, mostrando os dinossauros, o meteoro que caiu na terra, os primeiros homo sapiens, até chegar na construção da tal casa por onde passam várias famílias, cada uma com sua história.
Só que há uma história que se destaca das demais e é nela onde vemos a dupla que, conforme o próprio marketing do filme, veio lá do sensacional e premiado filme do diretor “Forrest Gump”: Tom Hanks (“O Pior Vizinho do Mundo”) e Robin Wright (“Donzela”). Hanks e Wright formam novamente o casal Richard e Margaret e a história mostra desde quando se conheceram até a sua velhice sempre dentro da mesma sala, exatamente no mesmo ângulo.
Há um primeiro desafio técnico onde Zemeckis até se sai bem, que é tornar dinâmico um filme que não sai do lugar (sem trocadilhos) e fazer com que as transições de tempo, seja para o futuro ou para o passado, sejam em si uma atração à parte para que o espectador tenha algum deleite em acompanhá-las. Alguns frames de transição são inspiradíssimos, enquanto os demais pelo menos cumprem seu papel. Importante frisar que parte desse desafio também tem a ver com a trilha sonora, um dos pontos altos da produção, feita pelo parceiro de longa data do diretor, Alan Silvestre, que já completa 40 anos compondo para os filmes de Zemeckis.
Para aproveitar essa técnica de um POV (ponto de vista), o diretor quis passar a mesma mensagem em duas escalas distintas ao mesmo tempo: a de que o tempo voa (como o próprio Richard não se cansa de repetir), numa escala global – da pré-história aos dias atuais – e numa escala intimista, focando na família de Richard.
O distúrbio que isso causa na narrativa é que ele teve que fazer várias pequenas subtramas que consomem tempo e agregam pouquíssimo, além de diluir a trama principal. Isso torna as demais histórias superficiais e diminui a relevância da principal que logicamente é a mais emocionante.
Os efeitos de CCGI e maquiagem são impressionantes, deixando Tom Hanks e Robin Wright jovens como se fosse de verdade, além de vários artifícios para expandir a angulação da câmera como espelhos e, é claro, uma surpresinha no final.
Baseado na Graphic novel de Richard McGuire , “Aqui” tem uma técnica impecável, mas traz consigo um problema de planejamento e narrativa que reduz em muito a sua efetividade. Ainda assim, talvez valha a pena conferir.
Curiosidades:
- As subtramas do passado são historicamente corretas, inclusive a invenção da cadeira reclinável de madeira em 1928.
- A palavra “aqui” é dita 39 vezes no filme.
- As épocas em que o filme se passa: na era do gelo, na era pré-colombiana, 1776, 1900, 1910, 1940, 1945 até o presente, concentrando-se entre 2010-2020.
- A esposa do diretor Leslie Zemeckis faz uma participação como parente de Benjamin Franklin.
Ficha Técnica:
Elenco:
Tom Hanks
Robin Wright
Paul Bettany
Kelly Reilly
Michelle Dockery
Gwilym Lee
Delilah O’Riordan
David Fynn
Ophelia Lovibond
Nicholas Pinnock
Nikki Amuka-Bird
Cache Vanderpuye
Anya Marco Harris
Tony Way
Jemima Rooper
Joel Oulette
Dannie McCallum
Keith Bartlett
Daniel Betts
Leslie Zemeckis
Direção:
Robert Zemeckis
História e Roteiro:
Eric Roth
Robert Zemeckis
Produção:
Bill Block
Derek Hogue
Jack Rapke
Robert Zemeckis
Fotografia:
Don Burgess
Trilha Sonora:
Alan Silvestri
