A Viúva Clicquot (“Widow Clicquot”)

Não sei por que os tradutores de cinema do Brasil têm uma mania de querem ser babás do público. Esta produção tem o subtítulo – que preferi não colocar na apresentação – de “A Mulher que Criou um Império”. Ora, então o espectador já sabe que a tal viúva que herda uma vinícola no século XVIII vai criar um império, o que já queima a largada.

A produção é baseada na história real do Vale do Champanhe e da viúva Barbe Nicole que com seus métodos experimentais, criou misturas que até hoje são referência no mundo dos vinhos.

Só que não é bem assim que a trama se apresenta: o desenvolvimento da narrativa se dá num vai e vem entre passado e presente, onde o divisor de águas é a morte do marido de Barbe, François (Tom Sturridge de “A Última Jornada”), o dono original da vinícola.

O espectador acompanha ao mesmo tempo, o relacionamento dos dois até os eventos que resultam na morte de seu marido e, o que se passa logo após, com Barbe assumindo as terras e os percalços que ela enfrenta se sustentar com esse trabalho.

O primeiro problema está no cansaço que o as idas e vindas ao passado com pouco a contar: o primeiro ato se reveza um eterno luto pela viúva e, no passado as melosas e infindáveis declarações de amor dos dois pombinhos. Já o segundo ato, é o melhor, pois começamos a ver as dificuldades do relacionamento, ao mesmo tempo em que, no presente, as coisas começam a complicar para Barbe.

Então surgem mais dois problemas: não havia citado até agora, mas a protagonista é a apaixonante Haley Bennett de “Till – A Busca por Justiça” e no filme ela encarna do início ao fim, uma personagem sempre frágil e às vezes até submissa, o que vai contra a lógica de que é uma mulher que criou o império. O filme termina e essas características permanecem, como se não tivesse havido nenhum arco emocional de transformação ou de empoderamento (o diretor tenta, mas sempre escorrega).

O outro problema é que, provavelmente pela falta de orçamento, 90% do filme se passa na própria mansão e em nenhum momento se vê a tal expansão ou criação de império. Pelo contrário, parece um filme muito mais pessoal sem nenhuma referência a esse sucesso de empreendimento, a não ser a legenda antes dos créditos finais.

O melhor personagem não faz parte do casal, mas é Louis (Sam Riley de “A Suíte Francesa”), o distribuidor de vinhos, melhor amigo de François e que depois vai apoiar Barbe. É nele que se centra a melhor subtrama que lá pelo terceiro ato é completamente esquecida, no ponto de nem se entender direito seu papel na relação pessoal do casal protagonista.

O golpe final na credibilidade do roteiro vem justamente no desfecho. O filme acaba aparentemente na parte onde seria a virada de chave, Pior: acaba abruptamente sem que o público faça a menor idéia do que acontece logo após, a não ser a tal legenda dizendo que a viúva criou o império.

A mensagem feminista da trama é muito bem passada, mas talvez seja o único conteúdo que faz sentido. Quando um filme de menos de 90 minutos parece demorar uma eternidade, é um mal sinal.

Assim, “A Viúva Clicquot” desperdiça uma boa história com uma abordagem bastante equivocada, deixando várias pontas soltas pelo caminho. Um porre.

Ficha Técnica:

Elenco:
Haley Bennett
Tom Sturridge
Natasha O’Keeffe
Cecily Cleeve
Ben Miles
Paul Rhys
Ian Conningham
Christopher Villiers
Cara Seymour
Sam Riley

Direção:
Thomas Napper

História e Roteiro:
Erin Dignam
Christopher Monger
Erin Dignam

Produção:
Haley Bennett
Christina Weiss Lurie
Joe Wright

Fotografia:
Caroline Champetier

Trilha Sonora:
Bryce Dessner

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