Poderíamos usar o jargão “uma idéia na cabeça e uma câmera na mão” para resumir o processo de criação dessa ficção científica minimalista que aposta em diálogos teatrais e em esconder mais do que expor, coisa que foi feito com o filme “Monstros” em 2010 e com êxito.
Partindo de um elenco desconhecido, o filme se passa no fim da década de 50 e temos o arrogante radialista Everett (Jake Horowitz) que, nos intervalos de seu programa passeia com a adolescente Fay (Sierra McCormick), até que são avisados que objetos voadores não identificados está sobrevoando a área e então eles partem para entender o fenômeno que, mal eles sabem, tem uma forte conexão com a cidade.
Os realizadores tiveram algumas sacadas que funcionaram em maior ou menos escala: a primeira é focar totalmente na dupla de protagonistas. Apesar de tanto falarem dos OVNIs, as câmeras dificilmente fazem tomadas onde se pode ver alguma coisa que não a busca frenética de Everett e Fay. Em alguns momentos funciona muito bem, inclusive pelo suspense de se entender a conexão entre os supostos alienígenas e a população da cidade, mas em outras vezes se transforma em diálogos dispensáveis que aparentemente servem mais para esticar a duração da história do que agregar a ela.
A segunda sacada é a técnica áudio visual envolvida para as cenas que tem seus momentos de emplacar. O diálogo sem parar com os cortes visuais no primeiro ato é um deles. Mesmo que só sirva para estabelecer a conexão entre a dupla de protagonistas, a maneira como foi feito é envolvente. Tanto quanto uma tomada de 9 minutos inteiros focando apenas o rosto de Fay, onde a atriz dá um pequeno show de interpretação. Algumas tomadas também são muito bem feitas como o caminho que a câmera trafega entre a estação de rádio e a casa de Fay para que o espectador possa entender o quão pequena é a cidade.
E claro, não deixa de ser interessante, mesmo que quase irrelevante, que toda a narrativa é tratada como o programa da década de 60 “Além da Imaginação” desde o início, como se fosse um filme dentro de outro ou então de um episódio da série.
“A Vastidão da Noite” consegue ser peculiar e esquecível ao mesmo tempo, tem um ritmo mainstream, mas um resultado cult. Pode agradar gregos e troianos ou nem um deles. Para quem gosta de experimentar é uma boa.
Curiosidades:
– A estação de rádio se chama WOTW e homenagem ao filme “Guerra dos Mundos” (em inglês é as iniciais de War Of The Worlds). Mais precisamente a adaptação para o rádio feita por Orson Welles.
– O nome da cidadezinha é Cayuga em homenagem à produtora Cayuga que fez a primeira versão da série “Além da Imaginação”.
– Filmado em apenas 17 dias.
– O diálogo do primeiro ato onde Fay conta sobre invenções de revistas científicas são todos artigos reais publicados na revista Mechanix Illustrated de 1956 a 1958.
– O título do filme é em homenagem a um monólogo da pela “A Tempestade” de William Shakespeare.
– A cidade vizinha, Santa Mira, a qual é citada algumas vezes é homenagem à mesma cidade onde se passa o filme “Invasores de Corpos”.
Ficha Técnica
Elenco:
Sierra McCormick
Jake Horowitz
Gail Cronauer
Bruce Davis
Cheyenne Barton
Mark Banik
Gregory Peyton
Adam Dietrich
Mallorie Rodak
Mollie Milligan
Ingrid Fease
Brandon Stewart
Kirk Griffith
Nika Sage McKenna
Brett Brock
Pam Dougherty
Lynn Blackburn
Richard Jackson
James Mayberry
Direção:
Andrew Patterson
Produção:
Adam Dietrich
Caleb Henry
Andrew Patterson
Fotografia:
M.I. Littin-Menz
Trilha Sonora:
Erick Alexander
Jared Bulmer