https://www.youtube.com/watch?v=Js9WjGS6KU4
Kevin Smith vive num universo particular há muito tempo. E nesse tempo, ele se tornou cultuado principalmente a partir do lançamento da comédia independente “O Balconista” há quase vinte anos. Ele então aproveitou pra fazer muita coisa boa (“Dogma”, “O Balconista 2”) e muita coisa ruim (“Tiras em Apuros”), mas sua legião de fãs parece idolatrá-lo de qualquer forma.
Chegou no ponto de no seu podcast semanal (sim ele ainda faz podcast), Smith lançou uma gincana pra saber se seus seguidores queriam que ele fizesse um filme sobre um cara que é transformado numa morsa (sim, uma morsa). Os seguidores tinham que tuitar #simmorsa ou #naomorsa dependendo do que quisessem. E nem é preciso dizer a resposta.
A premissa já é meio idiota por si só, a qual até lembra o trash “A Centopéia Humana”, mas em seu universo particular, o diretor quis fazer uma comédia misturado com terror. Justin Long de “Amor à Distância” é Wallace, o dono de um podcast (tal qual Smith) que faz reportagens bizarras e vai ao Canadá buscar um furo de reportagem, mas, frustrado, acaba parando numa casa longínqua com um senhor que promete contar histórias fantásticas da sua vida. O que ele não sabe é que esse velhinho (Michael Parks que já trabalhou com o diretor em outro terror, “Seita Mortal”) é um cientista louco que prende Wallace para transformá-lo numa morsa (melhor nem dizer o motivo). Então sua namorada e seu melhor amigo vão em busca do seu paradeiro contratando o pouco ortodoxo detetive Guy Lapointe (pasmem: Johnny Depp de “Aliança do Crime”, impagável) que já estava atrás desse psicopata há anos.
O filme se divide no terror da própria transformação, o qual é diluído pela própria personalidade excêntrica do cientista que quase dá um tom cômico à situação; e as diversas piadas envolvendo o Canadá e principalmente o detetive Guy. Não é demais repetir que Johnny Depp dá um show de timing cômico como o desastrado detetive e rouba praticamente todas as cenas em que aparece com diálogos engraçadíssimos.
Só que Kevin Smith parece tão imerso em seus devaneios egocêntricos que não parou para avaliar o básico da construção de uma história. Não cansa de se autorreferenciar como na cena das balconistas e parece fazer duas histórias separadas como água e óleo. Tanto que no último ato quando elas, de fato, se misturam, causa até um certo desconforto, como se houvesse uma invasão narrativa.
Sem contar os diversos furos no roteiro: porque todo o processo para enganar Wallace quando o cientista podia ter simplesmente feito a transformação de uma vez? E ele ainda deixa o celular de Wallace à vista para que ele possa fazer ligações para seus amigos? Além disso, a roupa de morsa é tão fajuta que não dá pra entender o desfecho, o qual não posso revelar aqui. Além disso, com a inteligência desse psicopata, é incrível que ele continuasse a solta. Só mesmo no Canadá.
“A Transformação” é algo feito para os fãs de Kevin Smith e muito direcionado mesmo, pois falha em quase qualquer aspecto, valendo apenas pela atuação hilária de Johnny Depp.
Curiosidades:
– As duas balconistas na vida real são as filhas de Kevin Smith e Johnny Depp.
– No decorrer dos créditos finais, aparece uma parte do podcast de Kevin Smith comentando sobre o filme de forma muito engraçada.
– Johnny Depp é creditado no filme com o nome de seu personagem Guy Lapointe.
– Esse é o primeiro filme de uma trilogia de terror-comédia no Canadá a ser filmado por Kevin Smith as continuações serão histórias diferentes, mas contarão com alguns dos personagens de “A Presa”, como por exemplo, o ótimo Guy Lapointe.
Ficha Técnica
Elenco:
Michael Parks
Justin Long
Genesis Rodriguez
Haley Joel Osment
Johnny Depp
Harley Morenstein
Ralph Garman
Jennifer Schwalbach Smith
Harley Quinn Smith
Lily-Rose Melody Depp
Ashley Greene
Direção:
Kevin Smith
Produção:
Sam Englebardt
David S. Greathouse
William D. Johnson
Shannon McIntosh
Fotografia:
James Laxton
Trilha Sonora:
Christopher Drake